A carência não é o oitavo pecado capital
Uma das melhores coisas em uma amizade é que através dela, podemos aprender diversas coisas. Mudar muitos conceitos que pareciam feitos a cimento, solidificados dentro da gente. Em mais uma das conversas diárias entre amigos que aparentemente já haviam passado por maus bocados na vida amorosa, chegamos à conclusão, eu e ele, que a carência não é o oitavo pecado capital.
É que a gente leva um tempo depois do último fim, assimilando tudo que aconteceu. Nesse duelo entre momentos bons e lágrimas, sentimos saudade. Saudade do cheiro, do toque, do som do sorriso, do arrepio, do calor do corpo, das mãos que passeavam em pleno prazer, sentimos falta daquele alguém que até instantes atrás preenchia todo o ambiente só com o simples fato de existir.
É nessas horas, meu bem, que o coração aperta. O coração parece uma daquelas laranjas maduras que a gente espreme na esperança de fazer um copo ou uma jarra de suco. Azedo e doce na mesma medida. Sem precisar de açúcar ou qualquer outro artifício para tornar o sabor mais agradável. Com o amor, quando feliz, é da mesma forma. Só a laranja basta.
Mas aí entre o sentir saudade, espremer o coração e pegar o telefone, a mente revê aquele mesmo famoso filme, o trailer dos nossos desencontros. Das nossas brigas. Das lágrimas que já enfeitaram os meus travesseiros e encharcaram as minhas noites de insônia. É aí que a gente desiste. Ou, melhor ainda, é aí que a gente cria coragem.
O lado bom da carência, que aparentemente ninguém valoriza, é que ela nos dá coragem para reconhecer que ainda podemos mudar algumas coisas. Nos dá o empurrão que, muitas vezes, é tudo que falta para que, com toda a vontade, possamos correr atrás de quem faz nosso coração acelerar. Da nossa primeira lembrança ao acordar, da última ao dormir e o rosto que vem à mente em cada música que os sertanejos universitários já criaram para embalar uma noite de carência, sofrência, sei lá que nome dar, mais (além do teu).
A carência não é o oitavo pecado capital. Ela pode até ser a culpada por muitas portas na cara, caixas postais, mensagens lidas e doloridamente ignoradas, mas a mesma vilã já se transformou em redentora, para mim, para o meu amigo e tantos outros casais. Ela nos deu a segunda, terceira, talvez quinta ou décima chance que precisávamos para perceber que aquele amor ainda não acabou. Que se espremermos o coração mais um pouco, o sabor da felicidade ainda é capaz de encher um copo ou uma jarra. De nos fazer transbordar.
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