A (des)importância da performance sexual
Tenho um princípio de síncope toda vez que ouço alguém falar em “competência sexual”. Competência! Como se alguém pudesse se qualificar sexualmente. Como se existisse uma teoria sobre preliminares, uma fórmula matemática de sexo oral ou um curso intensivo sobre orgasmo – se bem que esse poderia existir.
Sempre que ouço algo como “aquela sabe o que faz” ou “nossa, ele sabe usar a língua”, tenho certeza absoluta de que o pobre emissor desta mensagem não faz a menor ideia do que vem a ser um tesão genuíno.
É que a competência pode até ser importante no trabalho. Para as profissionais, certamente. Mas, em se tratando de sexo por livre e espontânea vontade – aquele feito sem pagar nadinha, onde a única recompensa é o prazer – é tão indispensável quanto um ar-condicionado numa bicicleta.
Tenho visto, por exemplo, homens que – mesmo tendo uma ‘profissional qualificada’ bem ao lado – arranjam amantes inexperientes e até ingênuas, com as quais, muitas vezes, têm o melhor sexo de suas vidas. Ou mulheres que descrevem sua melhor experiência sexual com semi-virgens de pouca (ou nenhuma) competência – já que insistem em usar esse termo.
É claro que também não dá pra sentir prazer com um cara que acha que clitóris é um órgão do sistema nervoso central, ou com uma moçoila que pense que usar os dentes no sexo oral é prazeroso, mas – sabendo-se o básico – a performance sexual é completamente dispensável se existe a vontade.
Por mais foda – literalmente – que possa ser uma performance sexual, ela continuará a ser enfadonha se não existir a vontade e o tesão de verdade. E é por isso que – digo e repito – as preliminares começam bem antes da cama. Na conversa, no vinho, no beijo, na mão na coxa enquanto dirige, nas piadas dúbias e nas coisas simples e mais sedutoras que qualquer lingerie vermelha. De nada adianta uma língua eficiente ou uma rebolada digna de Sasha Grey: se a pessoa não te desperta o tesão, a transa continuará a ser uma espécie de masturbação terceirizada.
O que eu estou tentando dizer desde o início é que um sexo com vontade vale mais que um sexo com competência, com maestria, pesquisa de campo ou seja lá o que for. Por que prazer não tem fórmula perfeita: é do instinto, do inconsciente, daquilo que não se pode compreender. Por isso, da próxima vez que quiser agradá-lo(a), esqueça os manuais, as listinhas americanas e os filmes educativos do porntube, e concentre-se na vontade – porque sexo com vontade é sexo com muita pegada e nenhum pudor. Isso sim é competência.
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