A gente não precisa agradar ninguém
Não sei bem quando ou como isso começou, mas tenho algumas teorias. Talvez quem já foi deixado no altar da vida, das expetativas, quem já foi esquecido dentro de uma história, quem já foi posto para fora de um coração à pontapés me entenda. A insegurança, depois do fim, sempre dificulta novos começos.
Não me lembro bem de quando foi que peguei no sono e acordei com essa necessidade de ser gostado, de ser querido, de ser lembrado. Minhas últimas memórias são de estar vivendo e, de repente, sentir um aperto no peito, um frio na barriga e uma necessidade urgente de ser aceito. De fazer parte. De qualquer coisa. De tudo. De todos os grupos, rodinhas de conversa, de todas as histórias. Eu não queria, de forma alguma, sofrer nenhuma outra rejeição.
Poucos sentimentos são tão amargos quanto ser rejeitado por alguém. Ainda que, sei lá, eu não ame essa pessoa, ainda que eu não seja seu melhor amigo, ainda que não sejamos próximos, a rejeição sempre corta a alma da gente. É como uma navalha que vai passeando pelo corpo sem piedade, enquanto o outro, o que a segura, apenas boceja.
Eu só não queria ter essa angustia de que ninguém mais vai me olhar por inteiro e me querer sem que eu tenha que sorrir insistentemente, parecer boa gente, boa praça, bom de papo, inteligente, disponível, atencioso. Eu só não queria me valer de artificio nenhum para que alguém me dissesse – poxa, como eu gosto de você!
Não sei bem quando ou como isso começou, mas tenho algumas teorias. Eu poderia culpar minha forma física, um amor ou dois que chegaram ao fim, alguns amigos que me viraram as costas, mas vou colocar a culpa de tudo isso no medo de me sentir sozinho. É isso. Talvez eu tenha medo de ficar só. Medo de quem eu sou não ser suficiente para encantar alguém.
Para ser sincero, dizer tudo isso agora me fez refletir ainda mais sobre toda essa minha insegurança. E por mais que pareça curta e rápida, essa reflexão me levou a te fazer um pedido, ou melhor, uma afirmação – você não precisa gostar de mim. Não precisa me seguir de volta, não precisa responder os meus comentários, os meus recados ou as minhas mensagens. Você não precisa me amar. Você não precisa, sequer, se não quiser, notar a minha existência.
Já vivi tempo demais nessa busca louca por ser aceito, por fazer parte. De qualquer coisa. De tudo. De todos os grupos, rodinhas de conversa, de todas as histórias. Para ser sincero, eu não queria mesmo, de forma alguma, era sofrer outra rejeição. Mas toda essa vontade foi em vão. Lutando para não ser rejeitado pelos outros, acabei me afastando de mim. Deixei para lá os momentos que não queria sorrir, ser legal, disponível ou sequer agradar, para fazer feliz outro alguém. Mas e a mim? Quem me faz feliz? Eu mesmo. Essa ficha só caiu agora.
Então, é isso – você não precisa gostar de mim. Você tem todo esse direito, mas completo – eu também não preciso gostar de você. E isso é mágico! Parece que encontrei o sentido da vida. E digo com um sorriso bobo no canto da boca. Como vivi tanto tempo sem me tocar disso? Não sei, só sei que, repetindo para nunca mais esquecer – não somos obrigados a agradar, nem tampouco a nos sentirmos agradados por outro alguém. Genial!
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