A nervosinha
Tem pessoas que nos atraem porque nos completam. Tem pessoas que nos atraem porque nos desafiam. Nos levam à beira do “por que eu estou aqui?”, aí lembramos do porquê. Você não a trata por “chatonilda” à toa. Você não diz que está com saudades da chatice dela à toa. Mas também não é à toa que você sente uma vontade incontrolável de beijá-la quando ela começa a verborragia, falando, falando, falando, gesticulando, brava. Também não é à toa que você adora sentir a respiração dela no seu peito, arfante de tanto falar, quando vocês se abraçam depois. E ela vai se acalmando, o coração vai desacelerando. Ela evita seu beijo, primeiro, depois não, depois te beija e você fala: “adoro você bravinha”.
Ela te desafia não no discurso, nem em saber mais ou menos. Mas no tom. Seus mil argumentos não valem um tostão furado quando ela começa a falar e gesticular, e “você não tá entendendo”, e “deixa eu falar”. Nada que você fale a faz parar. Mas, depois, vocês se entendem. Sem briga, sem bate boca. Só um “desculpa que eu me exaltei” aqui, um “tá, eu achei fofo” ali, e tudo certo. As pessoas olham e devem achar que você apanha em casa. Mas você não liga, porque é você que é recompensado depois, se me permitem a picardia, e recompensado com igual empenho.
Vejam bem, não há desrespeito, não há ofensas. Há duas pessoas de opiniões fortes que não param de falar, mas uma delas é linda e irresistivelmente charmosa! A natureza foi injusta. E quando ela se irrita porque você a interrompe para falar: “tá, continua depois, me dá um beijo!”. Ela te afasta, faz cara de brava, mas é só pra você ir atrás e beijá-la. Ela te beija, mas quando o beijo acaba, ainda há um centímetro de distância, ela continua a falar e te olha como se fosse fuzilar toda a sua família se você a interrompesse de novo. Mas você nem liga. Porque ela faz isso porque se importa, porque confia. Ah, e claro, os beijos ardentes depois de cada discurso sempre valem a pena.
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