A partida
O chamado feito por uma voz metálica ecoou em todo o aeroporto. Ela, a responsável pelas recentes marcas nas minhas costas e pelas permanentes cicatrizes na minha história, tristemente, precisava partir.
Havíamos prorrogado ao máximo a nossa despedida, mas, infelizmente, não tínhamos mais tempo nem para um último café curto. O voo dela decolaria em cinco minutos e ela, incapaz de soltar a minha mão, ainda nem havia cruzado o portão de embarque.
Pensei em não dizer nada, apenas virar as costas e evitar a dor daquele último abraço. Realmente pensei em sair correndo para não permitir que ela me visse, pela primeira vez na vida, aos prantos e barrancos. Pensei em segurá-la forte e implorar para que ela desistisse daquela nova e promissora vida, do novo e gelado país e, do novo e tão sonhado emprego, mas eu a amava a ponto de, quase sem coerência, torcer para que ela fosse feliz sem minhas caretas diárias.
Então, pela última vez na vida, carreguei as casino malas dela. Fui forte como sempre fingi ser e, com a boca involuntariamente trêmula, engoli a imensa vontade de chorar como criança. Não disse mais nada e ela, já com as bochechas molhadas, apenas me disse para ficar bem e para eu me cuidar. Pensei que não seria capaz de me cuidar sem a presença dela. Pensei, mas não disse nada. Apenas sorri com o maior esforço do mundo, pois, ao contrário da minha real vontade, não queria desencorajá-la ou impedi-la de correr atrás daquilo que ela sempre quis.
Segurei-a pelas orelhas, colei a ponta do meu nariz no dela e, olhando-a no centro das retinas, sem abrir a boca, desejei-lhe a maior sorte do mundo.
Ela embarcou naquele avião e eu, finalmente, deixei as lágrimas caírem. Corri para o bar no qual nos conhecemos, pedi uma garrafa de rum e lá, depois de onze horas tentando pensar em um plano para me reinventar, recebi um SMS dela que dizia: “Ri, cheguei bem. Fique bem.”.
Ela, diferente das últimas tantas vezes, não me chamou de “amor” e eu, já completamente embriagado, com muito esforço, escrevi: “Ficarei, não se preocupe. Cuide-se.”.
Fechei a conta e, ali mesmo, mesmo sem querer, por necessidade e por medo de deixar o tempo parar: abri uma nova vida.
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