A regra é clara

Paulo, Renata e Lucinha estão dentro do carro de Paulo, indo para a sua casa. Após anos de tentativas e conversas sobre o assunto, Paulo e Renata finalmente vão realizar o tão-sonhado e desejado ménage, com Lucinha, amiga do casal, que prontamente topou. Beberam, conversaram e agora estão dentro do carro, rumo à lascívia e à devassidão. Após entrarem no carro, com Lucinha no banco de trás, Renata resolveu interromper o breve silêncio:

– Então, como vai ser? – Perguntou Renata, animada mas em dúvida.

– Ué, vai ser como sempre é! – Respondeu um mais animado ainda Paulo.

– Como sempre é? E de quantos ménages você já participou, senhor Paulo? – Indagou uma já não tão animada Renata.

– De nenhum, mas não tem mistério. Todo mundo pega todo mundo, todo mundo come todo mundo.

– É, ué, todo mundo com todo mundo uhul! – Foi a vez de Lucinha dar sua contribuição para a conversa.

– Todo mundo come todo mundo não, porque pra começo de conversa, só tem uma pessoa aqui que pode comer alguém. Logo: o Paulo come todo mundo e todo mundo se pega.

– Então, amor, a gente chega lá, vocês se pegam, depois todo mundo pega todo mundo.

– Sei lá, tô achando muito bagunçado. Sempre tem que ter os três fazendo alguma coisa?

 

Lucinha pigarreou e tomou a frente da conversa:

 

– Sempre. Se alguém for chupar alguém, beijar alguém, comer alguém, arruma alguma coisa pra fazer! Beija uma bunda, chupa um dedão, lambe um peitinho, cutuca uma orelha, se ocupa, tem que se ocupar o tempo todo!

– Na minha bunda ninguém dá beijo não, arruma outra opção aí.

– Mas tem que fazer tudo comigo primeiro, Paulo! – Se adiantou Renata.

– Tudo, tudo?

– Tudo, tudo, tudo. Comigo primeiro, sempre. Depois com a Lucinha.

– Por mim, sem problemas! – Respondeu Lucinha, como se alguém tivesse falado com ela.

– Mas amor, e se a gente tá lá, na hora, e a Lucinha pede “me chupa”, ou “chupa meu pé”? Eu vou ter que correr, ir lá fazer em você primeiro pra depois fazer nela?

– É!

– Mas amorzinho, e se ela pedir pra eu comer a bunda dela? Você vai querer ser a primeira também?

– Não, isso não! Aqui não, você sabe que eu não curto mais isso desde aquele problema com o secador de cabelo e o saco plástico.

– Já tentei isso umas três vezes e sempre deu confusão. Já até desisti.

– Mas então, tirando isso, tenho que fazer tudo com você primeiro? – Perguntou Paulo

– É. Tudo menos isso.

– Ok. Mas e se você cansar? Posso continuar com a Lucinha?

– Não! Claro que não! Eu vou descansar e vocês vão ficar lá, no bem bom??

– Pô, mas aí é injusto!

– E digo mais: se eu for ao banheiro ou dormir, parou tudo! Nada acontece sem a minha presença!

– Pô, mas aí vai ficar meio sem graça! – Declarou Lucinha, impulsivamente

– É, Lucinha? Vai ficar sem graça por que? A graça é dar pro meu namorado sem mim por perto? É isso? Vai querer o que depois, levar ele pra casa? Vir aqui dar pra ele se eu viajar?

– Calma, amor – Tentou apaziguar Paulo. – Não é assim. É que é muita regra, muita coisa pra decorar. E se, na prática, eu já vou ter feito tudo com a Lucinha na sua presença – e feito com você antes, claro – qual o problema de fazer se você for ao banheiro?

– Amor, o problema é que eu não quero. Ponto. Não quero você fazendo nada com ela sem mim. Simples.

– Ah, amor, a gente tá fazendo uma loucura e você tá cheia de regras? Poxa…

– Tá bom então. Quando fizermos o ménage com o homem, eu vou ficar me divertindo com ele quando você cansar – e você cansa bem rápido.

 

Todos ficaram em silêncio. Renata quase sorria, vitoriosa. Paulo, impávido. Lucinha, empolgada, tentou animar a todos de novo.

 

– Pessoal, vamos parar com esse papo chato, vamos aproveitar! Vem cá, Rê, vamos nos pegar logo pra já ir animando.

– Lucinha, Lucinha, para, para. A gente vai te deixar em casa. Depois que a gente fizer um livrinho de regras a gente te liga.

– Nossa… Tá bom, né. Mas semana que vem eu não posso. Até que dia vocês acabam isso?

– Em uns três anos.

Depois de responder a Lucinha, Paulo fechou a cara. Renata, vitoriosa, havia conseguido adiar aquilo, mais uma vez. Era difícil fingir para ele que queria aquilo só para agradá-lo. O problema era se ele aceitasse a proposta dela. Mas não dá pra sofrer por antecipação, é preciso comemorar cada vitória.

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