Abraço de aeroporto
Neste exato momento estou no aeroporto, sentado, ouvindo uma música que me faz reviver algumas mágoas. E, sadicamente, não sei porque dou tanta voz a elas. Saindo de mim, do meu cenário interior, acho espetacular como no aeroporto eu assisto e vivo amores incríveis; sejam eles de mães e filhos, casais ou amigos. No aeroporto a gente percebe que despedidas são laços que sufocam, mas, no fundo, libertam os que vão. Não existe nada como um abraço de aeroporto. Céu azul, límpido, beijo e abraço sabor chocolate meio amargo. Quando a gente gosta de verdade, dizer adeus é sempre um nó de peso inversamente proporcional ao sorriso de quem chegou só para dizer que ainda nos ama. Esperar quem se ama é grande. É alegria sem dono. É uma mensagem sem protocolo de bom dia. Amar é do mundo; todos temos direito.
No aeroporto, todos somos inocentes e frágeis. Reféns dos céus, aqui, não somos donos de nenhuma razão. Acontece que não temos a autonomia que desejamos e, como na vida, as pessoas vão embora sem que tenhamos poder de escolha. E nem deveríamos. Os voos atrasam, são cancelados, e eles, os Deuses dos aeroportos, brincam de nos dizer em voz alta: “a gente que manda aqui, fica quieto e espera”. Crianças, e até adultos, ficam na inocência de admirar os aviões pousarem e decolarem. Pessoas, ansiosas e com um medo filho da puta da solidão, esperam um adeus que não virá. Famílias inteiras, que carregam uma saudade enorme e alguns mimos da pessoa que está por vir, contam os minutos para dar um simples abraço de boas-vindas. No aeroporto eu vejo o amor que nem sempre consigo ver no mundo. É um mundo de magia caso seja visto com lirismo. São os nossos olhos que fazem o mundo; são os nossos olhos que criam pontos de alegria na mesmice da vida.
Agora, escrevendo isso pelo celular, me fiz lembrar de uma namorada que morava em outra cidade e vinha me visitar semana sim, semana não. Lembro que sempre em que ela estava prestes a chegar, eu me ansiava de alegria. E existe sensação mais gostosa do que ser feliz só pela ansiedade de talvez ser feliz? Eu ficava andando de um lado para o outro me questionando coisas bestas… Será que o sorriso dela ainda é o mesmo da semana passada? Será que ela vem de mochila? Será que ela chegará com a mesma alegria que eu a espero? Onde ela vai querer jantar primeiro? Perguntas muitas vezes retóricas, mas cheias de bem-querer.
Nesses longos anos de viagens eu vi tanta coisa. Vi tantos amores partirem, rindo para não se magoarem, chorando pois não haviam outras opções. Eu vi amores lindos que eu gostaria tanto que fossem os meus. No aeroporto não há tempo para pequenezas, tudo é grande. Cada palavra tem o peso de dez. Cada beijo vale por mil. Cada adeus é um sorriso que não volta mais.
Aprendi, somente abrindo um pouquinho os olhos, que não existe sensação mais linda do que viver cada emoção como se fosse um último e verdadeiro abraço de aeroporto. Viver a emoção do presente, de coração, sem receio da quantidade da entrega. Mensurar o quanto a gente deve se entregar é uma perda de tempo muito grande para o tempo de voo que temos aqui na terra. Um abraço de aeroporto é um adeus momentâneo que leva muito da gente, mas nos faz descobrir que a solidão do aeroporto é a solidão da vida. É um eterno desconhecer; ali somos todos solidão, esperando o destino; o amor; os céus; uma esperança.
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