Acabou. E aí?
Na noite passada, chorei compulsivamente. Não foram duas lágrimas e dez minutos de drama. Foram, pelo menos, algumas horas em que novos motivos surgiam por segundo para encharcar ainda mais o meu travesseiro. Depois de, literalmente, cansar de chorar, me sentei na cama, olhei meu reflexo no espelho do guarda-roupa e pensei – acabou, e aí? Já não há mais nada que eu possa fazer a não ser seguir.
Olhando de fora, depois de tanto choro, é até, digamos, simples dizer que chorei feito uma criança, um bebê de colo com fome e depois resolvi seguir em frente. Mas só quem já viveu na pele a queimadura que é terminar um namoro sabe o quanto dói até ter aquele sentimento cicatrizado dentro de si.
Derramando meu pranto, comecei a rever a nossa história. Desde o começo até o inegável fim, sempre me doei demais. Sempre que você precisava, lá estava eu, me fazendo necessário, emprestando meus ouvidos, meu colo, minhas palavras, meus abraços. Sempre que você não precisava, lá estava eu, me fazendo de presente, emprestando minha boca, me corpo, meus carinhos, minha vontade de realizar os teus desejos.
E assim eu meio que fui te mal acostumando. É que nós, os loucos e cegos apaixonados, fazemos isso. Você não precisava vir até mim. Você não precisava fazer o menor esforço para me ter nas mãos. Se bobear, nas nossas brigas, você errava e eu pedia desculpas. Fui passando por cima de todas as minhas vontades, das minhas verdades, das minhas necessidades para caber no projeto de relação que eu tinha imaginado pra gente. Um casal feliz.
Foi deitando a cabeça no travesseiro depois de uma overdose de lágrimas, de um desespero por me sentir impotente, depois de uma convulsão de saudade, que eu percebi que sim, foi melhor você ter ido embora. Tanto para mim quanto para você. Para mim por aprender a me ater apenas ao meu quadrado e deixar que o meu próximo amor tenha espaço na relação. Para você porque alguém, a vida ou qualquer nome que você queira dar ao destino, precisa te ensinar a demonstrar melhor os teus sentimentos.
Compreendi hoje, depois de acordar dessa noite que mais pareceu um misto de sonho e pesadelo, que meu maior defeito foi oferecer a você tudo aquilo que eu tinha sede de receber. Digo defeito porque era mais fácil pedir. Terminar. Me bastar. Mas tive medo da solidão. Medo de uma vida sem você. Até que você se decidiu por mim.
Então, acabou. E aí, ex-amor, agora é cada um pro seu canto. Cada um com seu pranto. Cada um com a sua carência, com as suas novas conquistas, com seus novos erros nessa tarefa difícil de ter uma relação sadia. Para a gente, realmente, não dava mais. Precisei doer para perceber. O bom é que o amor não se gasta oferecendo a quem não sabe aproveitar. O amor é uma fonte renovável de prazer. Mas ele só se multiplica em quem se divide.
Comentar sobre Acabou. E aí?