Aconchego mais quente nesse mundo não existe
Entra. Puxa uma cadeira. Senta. Ou senta aqui no meu colo, que aconchego mais quente nesse mundo não existe. E olha que hoje tá frio, hein. Mas a gente vai suar. Fica um pouco mais. O cobertor nunca é grande o suficiente, mas dá pra nós dois. Te faço sorrir. Te faço um cafuné. Te faço ter um orgasmo. Pra você ranger os dentes e se contorcer rendido, como se gladiasse já no chão, momentos antes de tomar o golpe fatal. E depois te faço adormecer, que é pra você sonhar com o que te faz sorrir. E amanhã, te faço um café preto e te levo na cama por puro esmero. Mas antes, te faço ter outro orgasmo, que é pra te molhar e depois te secar. Gota por gota.
Vem cá. Larga essa mochila no pé da cama. Relaxa. Que hoje eu vou cantar pra você. Elis, Cássia, Amy, Bethânia, Marina, Zélia. Você escolhe. Quaquaraquaquá, quem riu, quaquaraquaquá, fui eu. Eu sei que você gosta dessa. Mas essa, meu bem, a gente deixa pra cantar na estrada, com os vidros abertos, a caminho da praia, o sol ruborescendo nossas peles claras. Essa a gente canta pra celebrar. Hoje eu só canto se for pra esquentar o nosso canto. Ou pra te arrepiar a nuca, os pelos do braço. Até o tornozelo, você diz, enquanto conduz minhas mãos pela sua perna magra e pequena, mas que carrega a precisão e o charme do mundo.
Acorda. Abre esses olhos mais lindos que os meus já cruzaram. Me dá um beijo, que o dia, quando começa assim, é mais gostoso. O despertador enche o saco, eu sei. Mas a gente dá um “soneca” e fica tudo em paz. Pelo menos por mais dez minutos. Que viram vinte, trinta, quarenta, uma conchinha malfeita, as primeiras roupas que o armário cospe, uma cara lavada e uma jornada de trabalho estendida até as sete e meia da noite, que é pra compensar o atraso matinal. Que quando é por causa da nossa preguiça ou da nossa luxúria, deus perdoa. E nem precisa rezar três ave-marias e um pai-nosso. Porque deus que é deus sabe que querer ficar mais uns minutos de conchinha não é pecado. E que querer transar mais um pouquinho também não é.
Então fica. À revelia do tempo, que corre feito maratonista quando a gente tá junto. Ignorando o dinheiro que a gente deixa de ganhar quando manda a produtividade e todas essas medições mesquinhas às favas. Acreditando que nossos chefes somos nós mesmos. Porque tempo, dinheiro e chefia é tudo coisa inventada pelo homem. Mas essa vontade de ficar mais um pouco… Ah, essa vontade de ficar mais um pouco só pode ser obra divina!
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