Acredite no sucesso, mas acredite ainda mais em “Pequena Miss Sunshine”
“Perdedor é alguém que tem tanto medo de não vencer, que nem mesmo tenta.” O avô de Olive
É claro que a derrota faz parte do nosso crescimento, mas deve doer um pouco mais quando todos os dias você ouve que deve vencer ou vencer. Esse é o dilema de Olive (Abigail Breslin), a pequena menina dos olhos garrafais, que cresce em meio à uma família um tanto disfuncional, cheia de excentricidades. Naquele núcleo a palavra “vencer” parece uma grande ironia quando a frustração parece estar escrita na testa de cada um. O pai (Greg Kinnear), apesar de palestrar sobre os 9 mandamentos para se ser um vencedor, é um loser de carteirinha, o tio (Steve Carell) já tentou suicídio, o avô (Alan Arkin) foi banido do asilo por ser viciado em drogas, o irmão (Paul Dano) se sente desajustado em relação ao mundo e fez um voto de silêncio até conseguir virar piloto, resta a Olive honrar a todos da família Hoover no concurso mirim de pequenas beldades precoces: o “Pequena Miss Sunshine”.
“Pequena Miss Sunshine” nasceu de uma série de apuros envolvendo a sua própria concepção. É um indie de baixíssimo orçamento que tinha tudo para não vingar. Demorou 5 anos para ser produzido, devido a problemas financeiros para a realização. Chegou a ser engavetado já que a produtora inicial desistiu de seguir com as filmagens. Foi então que o produtor Marc Turtletaub assumiu sozinho os gastos e finalizou o longa com U$$ 8 milhões. Resultado: uma bilheteria alta, e uma grande comoção vinda da crítica. Concorreu a 4 estatuetas do Oscar, disputando como melhor filme, melhor atriz coadjuvante (Abigail Breslin) e vencendo como melhor ator coadjuvante (Alan Arkin) e roteiro original. Levou também o César de melhor filme estrangeiro, o MTV Movie Awards de melhor filme e foi indicado ao Grammy de melhor trilha sonora. Hoje, brilha na estante de guloseimas da Netflix. Uma curiosidade: alguns dias antes do Oscar, o ator Alan Arkin declarou torcer para que a pequena Abigail perdesse a disputa, já que uma vitória arruinaria sua infância.
No road-movie mais fofo do universo, até a Kombi amarela parece fazer jus à sina do #fail. Precisa ser empurrada para pegar no tranco, é mais um símbolo sobre o trajeto trôpego realizado pela família de Olive. O amarelo da fotografia corre por nós a todo instante, a trilha sonora é delicada e melancólica, e algumas cenas são adoráveis. Quando Olive chora com medo de perder o concurso já que o pai odeia perdedores ou quando abraça o irmão para consolá-lo em relação ao Daltonismo. E claro, a cena de dança final, que coroa o meu amor eterno por filmes com números dançantes desastrosos.
“Pequena Miss Sunshine” é um doce alerta para que a frustração não se esconda por trás dos motivadores infalíveis, uma dramédia que nos desperta um riso mesclado a uma compaixão. Faz uma crítica ao simulacro das fórmulas para felicidade. Hoje, é assustador olhar ao nosso redor e ver que 8 a cada 10 amigos estão insatisfeitos com a própria vida, esperando por uma grande virada, querendo jogar o emprego pro alto, investindo tempo e dinheiro em auto-ajuda. Muitos deles cresceram ao meu lado contaminados pela síndrome do melhor. “Eu tenho o melhor patins”, “meu pai tem o melhor carro”, “O meu sorvete é melhor do que o seu”. Mais tarde fui descobrir que eles tinham tantos ou mais dilemas existenciais do que eu – que fui uma criança bem da insegura. Uma lição que eu aprendi com gente que não cozinha pratos fotogênicos é sempre me dispor a provar a receita que esteticamente não deu certo. Os olhos não serão seduzidos, mas existem receitas que não deram certo e que dependendo da disposição do paladar para o sabor, ficam melhores ainda. Isso também ensina que na vida, existem momentos em que a grande solução pode justamente vir da cagada certa.
Veja o trailer:
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