Ainda prefiro os contatos com tato
Não tenho dúvidas: estamos sentindo, na pele ou na constante falta dela, a consequência das inovações apresentadas pelo tão mutável universo das comunicações. A paquera, que antes carecia de olho no olho, mão na mão e sorriso no sorriso, hoje tem acontecido a distância, às cegas, por meio de telas touch, através de monitores que fingem ser janelas reais e, os protagonistas modernos dessa conquista milenar, agora têm a chance de tentar tocar outros corações sem precisar sair de casa, sem tirar o pijama amassado ou pentear o cabelo bagunçado. A voz, sempre tão útil para transmissão da audível força das emoções, tem ficado cada dia mais fraca e, hoje, está quase muda, pois tem sido falsamente substituída por caracteres sem vida, por e-mails gelados, por SMS’s abreviados e por cartões virtuais padronizados. Até o sexo, que é a melhor forma de fundir fisicamente os corpos, nos dias atuais, tem caminhado para modelos estranhos, diria até incompreensíveis, nos quais o suor e o cheiro dos corpos já não se misturam mais. Sim, o sexo virtual já foi inventado e, depois dele, as pessoas não dividem mais o merecido cigarro do pós-gozo e nem têm a imperdível chance de buscar aconchego no peito, ainda retumbante, do parceiro que demora a retomar o ar roubado pelo prazer do ato.
Não nego que, nesse mundo a cada milésimo mais moderno, existe tecnologia de sobra. Mas, isso não basta, pois tem faltado gosto de gente, toque com direito a arrepios, abraço que esmague até quase doer e tudo aquilo que nenhuma ferramenta, por mais mirabolante que seja, será capaz de proporcionar.
Sei que a ciência tem feito de tudo para encurtar distâncias, para romper barreiras e para nos deixar cada vez mais por dentro da vida de quem muito amamos. Isso é fantástico, pois em muitos casos, os frutos dela são as únicas formas que temos para saber como o outro está, mas, muitas vezes, a vontade imensa de estarmos presentes na vida do outro, tem matado o desejo natural. Isso mesmo. O desejo nasce da falta e a ânsia de fincarmos nossa bandeira em cada segundo da vida de quem amamos, tem tido o efeito oposto daquele que esperamos, ou seja, a escassez de hiatos normais entre os parceiros está diminuindo a gana gostosa que surge inevitavelmente das separações que a rotina impõe.
Mesmo sabendo das tantas possibilidades para passar o dia em contato com o ser que amamos, precisamos deixar algumas lacunas e precisamos dar chances para que a saudade surja e que com ela: venha também a fome do reencontro.
Não estou dizendo que devemos abrir mão dos benefícios da tecnologia e, assim, criar abismos profundos entre nós e as pessoas queridas da nossa vida. Nada disso! Apenas sugiro que, vez ou outra, deixe a bateria do celular acabar, troque o e-mail por uma carta escrita à mão, opte pela ligação ao invés do SMS e mais: não ache que estar presente 24 horas por dia na vida de alguém é o caminho para ser desejado, pois não é.
Se assim fizer e agir, sem medo desta distância natural afastar vocês, tenho certeza que no final do dia, na hora do reencontro, não faltará assunto e nem vontade de tirar tudo da tomada para alimentar-se só da energia existente em seus corpos.
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