
Ainda sei aquilo que quer
Sei que ainda espera por mim no mesmo portĂŁo enferrujado. Sei, tambĂ©m, que ainda me encontra dentro das mĂşsicas que, hoje, já estĂŁo fora de moda. Sei que continua lendo as minhas colunas despudoradas e que nelas, ainda procura algum indĂcio desse nosso velho amor. Sei que ainda se lembra das minhas velhas caretas, agora sem graça, em minha cara mais enrugada. Sei que ainda sente falta daqueles domingos infinitos debaixo do edredom e das poesias deixadas sobre teu travesseiro. Sei que sente falta das tantas coisas que escrevia sĂł para te dar razões para enfrentar uma nova semana. Sei que teus batimentos ainda falham, sĂł por um segundo, quando se engana e na multidĂŁo vĂŞ alguĂ©m parecido com meu eu antigo. Sei que ainda se lembra de mim a cada gole de cafĂ© e que quando olha para xĂcara vazia, quase morre em meio Ă falta de nossas transbordantes conversas. Sei que ainda torce para que eu nĂŁo desista de escrever e que espera ansiosa pelo meu novo livro. Sei que ainda vĂŞ o quarto girando quando, depois de muitos goles a mais, deita sozinha na escuridĂŁo do quarto e mais uma vez, jura que nunca mais beberá nada alĂ©m do inofensivo suco. Sei que ainda sabe o quanto eu sei de ti, mas que insiste em disfarçar e que em silĂŞncio: implora ao tempo para me apagar de vez.
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