Amores breves de metrô
Um rosto se acendeu na noite escura. Acabara de dar mais um trago no cigarro: amargo na boca, fumaça nos pulmões, nicotina no sangue. Me empresta o isqueiro? Mais um amigo na noite. Ou uma possibilidade de foda. Ou um amor platônico. Ou um mero desconhecido. Com quem cruzaria no metrô à noite, a caminho de casa, depois de mais um dia infeliz de trabalho. E não reconheceria. Até acharia bonito. Levemente atraente. Mas não reconheceria. E vida que segue. Não seria o primeiro. Nem o segundo. Tampouco o terceiro affair de metrô que deixaria passar. Entrar no outro vagão. Ou descer uma estação antes. Sem levar um sorriso. Uma palavra. Ou um número de telefone que fosse.
Porque a vida tem dessas. De encontros e desencontros. De compassos e descompassos. De relógios girando em sentidos divergentes. Diferentes. Opostos. Que mais se distraem do que se atraem. Que mais se chocam do que se cruzam. Que mais se enroscam do que se enlaçam. Que não existem, mas que poderiam. Que não marcam, mas que poderiam. Que não ficam, mas que poderiam.
Porque a gente tem dessas. De não tomar frente. De não ir atrás. De deixar passar. Por medo de reprovação. Por medo de perder o assento. Por medo de perder o ponto. Porque vivemos tão ocupados com planilhas e contas e contos, que nos ocupar de nós mesmos é perda de tempo. Porque nossos smartphones são interessantes demais e a vida real é interessante de menos. Porque a gente vislumbra tanto um match virtual que nem percebe que um match real está na iminência de acontecer.
Ah, os amantes breves de metrô. Que se conhecem na Luz e se desconhecem na Liberdade. Que se gostam na Lapa e se desgostam no Retiro. Que se esperam na Glória e se desesperam no Cantagalo.
Para alguns, viver é se arriscar. Para outros, é perder oportunidades.
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