Aplicativo Lulu – onde queremos chegar?
Sábado de noite, sem saber, eu estava lá, preenchido de hashtags dignas de vergonha alheia: #bocademel, #caideboca, #bebesemcair, #teamomecomeagora – sim, estou falando sério. A primeira reação que tive ao ver isso foi sentir-me um idiota. O Lulu é, no mínimo, invasivo, eu estava lá sem nem saber e, em coisa de 30 minutos, eu já era sexy, mal educado, idiota, rico e astronauta. Tudo isso avaliado por pessoas que nunca sentaram comigo em um bar, ou ao meu lado na poltrona do avião, para conversar se quer sobre azeitonas.
Pense comigo, qual é o real objetivo do aplicativo além de julgar? Podem criticar o Tinder – outro aplicativo desses –, mas pelo menos ele tem o objetivo das pessoas se conhecerem – mesmo que os dois julguem a aparência alheia em primeira instância. O grande problema, a meu ver, nem é o fato de julgar a beleza das pessoas, até porque fazemos isso todos os dias em festas e bares. Mas sim expor suas intimidades e opiniões – na maioria delas, inverdades – como se a opinião de um desconhecido fosse um crivo para você escolher alguém nessa rede social que mais parece um cardápio online.
Próprias conclusões, para quê?
Você já parou para pensar, se por uma eventualidade, fosse o contrário? Um aplicativo que julgasse mulheres? Sem rodeios, e seletividade, permearíamos entre #engoletudinho, #portadosfundosopen, #gostadacoisa, #nãonegaumcopodeagua e por aí em diante. E a única pergunta que faço ao mundo é: onde queremos chegar?
E olha, que sou um cara superaberto a coisas novas e não me atenho muito às moralidades da vida. Mas, o que questiono aqui, nem é a parte moralista disso tudo, dos valores éticos, mas sim como esses tipos de acessibilidades tornam a sociedade cada vez mais fraca emocionalmente. Criamos pessoas bananas, sem atitude, carentes, tudo isso para conseguir um ego momentâneo travestido de autoestima. Longe de mim querer voltar aos anos 50 onde mãos dadas nos banquinhos do parque e ávidos dedos em canelas vulneráveis eram sinônimos de compromisso, mas acho que tudo na vida existe um bom senso, um meio termo, uma dosagem. Com essa acessibilidade vários problemas estão sendo acarretados. As pessoas não aguentam mais os entreveros da vida a dois, perdem a paciência rápido demais com problemas de níveis banais. Até porque se é tão fácil encontrar outra pessoa perfeita nessa esfera virtual, por que eu teria que aceitar esses defeitos rotineiros?
Por isso, sempre que posso, deixo bem claro as fãs do blog que: ninguém aqui me ama, ninguém aqui quer casar comigo e ninguém aqui me conhece. Vocês simplesmente gostam do que escrevo e só. E isso não é grosseria, mas sim, um contrato de realidade. Não vou acariciar a cabeça de ninguém e dizer que amo vocês – como muitos aspirantes a celebridades fazem. Tenho um carinho mutuo, e só. O resto deixamos para os contatos com tatos.
Ultimamente as pessoas estão com os egos tão inflados e orgulhos tão exaltados, que infelizmente, elas têm medo de transformar seus medos e vergonhas em curiosidade. E isso, só reflete a nossa falta de autoestima. Seria tão gostoso se pudéssemos esquecer os estereótipos, deixar a comodidade de lado e ir à luta de conhecer pessoas interessante nesse mundão a fora.
Sem mais, não questiono a disponibilização da avaliação do outro em si, mas sim como o que era para ser um entretenimento conquistado está virando indústria, e cada vez mais as pessoas estão necessitando de sistemas que substituam a importância da nossa tão esmera e gostosa personalidade. Então, se você quiser me conhecer – ou qualquer cara que seja – largue esse aplicativo e arrisque aquele simples olá que você esqueceu de baixar no iTunes.
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