As minhas melhores coisas que eu desejo pra você
Eu queria te desejar um monte de coisas, tantas coisas, porque esse ano foi difícil, e nas piores horas eu recorria ao remédio das listagens. Parece bobo, eu sei, mas isso, essas listas, me faziam lembrar que existem coisas pequenas, as mais tolas, e eram elas que me deixavam de pé. Eu sobrevivi, eu sobrevivi.
“As melhores coisas do mundo” é o nome de um filme, mas eu quero falar de sensações e de quem coleciona instantes.
As minhas melhores coisas que eu desejo pra você. A casca de parmesão do Black Dog. Serotonina. Frio na barriga. Cócegas. Dopamina. Refrescância. Neologismos. Covinhas. Cheiro de perfume cítrico. Flanar. Epifania. Gozo. Sono. Crocância. Ajudar. Rimas. Trailers. Sentar de índio. Catarses. Mistérios. Cafuné. Netflix. Adrenalina. Infláveis. Chegar na hora. Produtividade. Aeroporto. Ludicidade. Novela. Frio com sol. Silêncio. Prefácios. Wi-Fi aberto. Músicas do Beirut. Chorar sem motivo. Massagem. Prosa poética. Manjericão. Refrão. Endorfina. Sinestesia. Déjà Vu. Ocitocina. Eventos com lanche. Mudar de ideia. Gifs. Catupiry legítimo. Ar- condicionado. Livros com pop-up. Terminar cadastros. Chocolate branco crocante. Carboidrato. Dizer pra caprichar e capricharem. Fotos com fundo borrado. Preliminares. Vésperas. Milhas. Férias. Lap dance.
Ah, eu também te desejo muito som de Acordeon que rima com Mostarda Dijon. Bolo molhado. Like. Elogio. Presente pelo correio. Empatia. Fazer as pazes. Autenticidade. Números redondos. Madeleines. Barulho de água. Royal Streth Flash. Ganhar de virada. Sorvete de duas bolas. Queijo quente. Surpresas. Flashmobs. Simetrias. Sábado. Quinta-feira. Pastel de feira. Rabo abanando. Schweppes Citrus. Ser correspondido. Caça ao tesouro. Luzinhas de natal. Natal. Simplicidade. Novidade. Abraço. Abraço bem demorado. Comerciais tailandeses.
Mas antes, um conselho poderoso. Agir com o coração é um evento sem imagem prévia. Pensar sobre as divisões políticas entre a razão e a emoção, é, irremediavelmente, racionalizar. Sentir saudade antes, a não preenchida, sem testar o risco, sem ir, sem provar como é olhar o risco dentro do próprio risco. Longe daqui, eu não sei como é, e eu pergunto aos outros como é, pra testar uma certeza que não é minha. Pulem antes por mim. Assim é a inércia, aquela que espera por placas de aviso, por alguém que nos diga: “pode mexer, não morde”. Eu lamento por tudo o que eu não posso, por já ter decidido antes que eu não posso. Mas só eu tenho a resposta, só eu posso me elogiar mil vezes, e depois de insistir, dizer pra mim: eu posso.
Você pode.
Já acabou Jéssica? Não, ainda não. Não te desejo macarrão com muito queijo ralado, mas muito queijo ralado com um pouco de macarrão. E eu gosto dos acidentes cotidianos que a gente não percebe, de uma gola manchada com os rastros do molho ao sugo, ou que você coloque a camisa ao avesso sem querer. As pessoas vão te olhar diferente, e você vai achar que é importante, mas você é importante, eu prometo.
Quando você ler isso, talvez pense em outra pessoa, e essa parte me fascina. Essa associação subliminar. Em toda a dor e toda a nostalgia, há uma imagem incompleta que embaça o meu pensamento enquanto leio uma reflexão alheia: as pessoas estão sempre falando de alguém. Com carinho ou não. Existe alguém nos dedos de cada pensamento teclado. Alguém que vocês enforcam ou pensam com carinho, alguém que eu vejo apenas o pescoço, não o rosto. Não importa, essa lista é pra você, porque a leitura é um tipo de transformação, há uma mistura minha e sua, e logo essa lista será outra lista, com as suas melhores coisas do mundo
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