Caro desconhecido e atual namorado da minha ex
Sei que a fila andou e que, agora, é a sua vez. Por isso, lutando contra o ciúme que, até ontem, parecia invencível, desistindo do tiro que, num momento de embriaguez, pensei em lhe dar, e propondo, como nunca achei que seria capaz, a mais improvável parceria, escrevo para lhe contar os segredos que só quem a observou atentamente, por mais de três anos, conseguiu aprender. Escrevo, com inevitável dor no coração, para impedir que você seja a causa da incontinência de lágrimas dela, como eu um dia fui.
Apesar de não vê-la há mais de um ano, continuo desejando que ela ria até perder o fôlego e, por isso, quando ela ameaçar murchar, peço que recorra às cócegas na barriga dela. Verá que é quase infalível. Mas, se nem assim conseguir motivá-la a mostrar os dentes, irmão, para afastá-la de qualquer possível tristeza, não tenha vergonha de colocar a música do clube das mulheres e de fazer o striptease mais enérgico da sua vida ao som dessa pérola musical. Isso mesmo! Não seja fresco, cinza ou demasiadamente contido. Rasgue sua camisa nova se for preciso. Faça o Adam Sandler perder a graça. Rebole feito uma lombriga sob efeito de ecstasy e, em hipótese alguma, pare quando o suor começar a escorrer da sua testa. Se você a ama de verdade, quando a fizer se contorcer de tanto rir, meu caro, verá que valeu a pena seguir o meu conselho e perder algumas muitas calorias por ela. E não me diga que é incapaz de agir assim, pois, se assim fizer, direi que não é homem pra ela.
Sabe cozinhar? Tem coragem para meter a mão na massa? Ou é daqueles que tentará impressioná-la pagando as contas astronômicas dos restaurantes mais chiques e fingindo que entende tudo de vinhos? Esqueça isso! Ela não está nem aí para as notas amadeiradas daquele Malbec português e pensará em outra coisa caso comece a falar da importância da safra de 2001. E, se quer saber, prefere Sangue de Boi por achá-lo mais “docinho”, como ela mesma dizia. Quer mesmo encantá-la? Quando ela chegar do trabalho morrendo de fome, ou seja, qualquer dia desses, surpreenda-a esperando com um prato na mão e um sorriso no rosto. Não precisa ser um Confit de Pato ou um Blanquett de Veau. Nada disso! Nada a deixa tão feliz como bolinho de arroz. Não sabe fazer? Já sei. Faça um macarrão com molho quatro queijos, ou melhor, use dez queijos, pois ela é viciada em queijos. Só não exagere no gorgonzola, tá? Ela acha forte demais e, apesar de nunca ter me dito, sei que tem um leve nojo dos pedacinhos verdes. Ainda acha muito difícil? Faça um misto-quente. Só não se esqueça de escolher o pão francês mais claro e de colocar o dobro de queijo, certo? E, para beber, Coca-Cola com bastante gelo. Simples assim e ela o amará, mesmo que a comida não esteja perfeita.
Outra coisa, ela adora viajar. Que tal colocar o carro na estrada no próximo final de semana? Só não a leve para o meio do mato, pois ela morre de medo de insetos. O coração dela dispara até com a presença de mariposas. Até pensei em dizer para levá-la para Santiago, no Chile, porque ela ama aquela cidade. Porém, se forem pra lá, sei que ela se lembrará de mim e que verá meu fantasma em cada esquina. Por isso, sugiro um novo destino e um lugar no qual os bares nunca fecham, pois, apesar de não beber tanto, ela ama sentar em alguma mesa da calçada e lá ficar até o garçom avisar que a cozinha já fechou.
Se ela não se sentir bem e perder o ar, ela não lhe avisará, por isso, mantenha o olhar atento. Na maioria das vezes, para afastar o pânico que, vez ou outra, invade-a, basta ligar o ventilador na velocidade seis, deitar bem colado nela e deixar sua mão pousar sobre o coração dela. Para acalmá-la, tente distraí-la. Conte alguma história maluca da sua infância ou, mesmo que não queira ter um cachorro, incentive-a a escolher um nome para um filhote imaginário. Logo ela voltará a respirar e, como se nada tivesse acontecido, ela retribuirá fazendo a melhor respiração boca a boca que um homem pode receber.
Quando comecei a escrever estes conselhos, jurei, a mim mesmo, que não lhe entregaria o ouro todo e que não contaria as coisas que a fazem gozar. Porém, se com você ela não for capaz de estremecer, nada do que eu disse nos parágrafos anteriores fará sentido, porque ela se sentirá incompleta ao seu lado. Por isso, meu caro, preste muita atenção no que lhe direi agora: para fazê-la gozar de verdade, antes mesmo de despi-la, precisará remover dela os pudores. Para isso, nada é tão eficiente como safadezas ditas ao pé do ouvido. Diga, sem medo de parecer o tarado que provavelmente é, o quanto está louco para cravar seus dedos na cintura dela e para vê-la gemer até enrouquecer. Fale, sem medo de assustá-la com sua fome, o quanto está disposto a segurá-la pelos cabelos e só soltar quando ela, finalmente, perder o controle do próprio corpo. Depois disso, tudo ficará muito mais fácil, pois, com toda certeza, ela estará deliciosamente molhada e completamente entregue aos seus mais nobres objetivos. Não pare por aí. Na hora H, não aja feito um príncipe meloso da Disney. Deixe o romantismo para depois. Seja bicho. Dê-lhe tapas, mas dose bem a força, pois, se machucá-la, serei obrigado a deixar as boas intenções de lado e a amputar suas pernas com uma lâmina de barbear. Chupe-a com fome e sem nojinhos. Não a coma feito uma britadeira, por favor. Mas, sempre que puder, coma-a para que ela não sinta minha falta. Só pare quando ela gozar e se, por ventura, não aguentar a beleza da bunda dela e gozar antes da hora, continue com as armas que tem. Não esqueça que tem dedos, língua e palavras. Pode ser?
Por fim, para terminar o mais doloroso texto que já escrevi, peço que não a faça de boba, que não cause nenhum mal a ela e que seja homem caso pense em desistir dela. Pois, se eu descobrir que pisou na bola, ou melhor, nela, caro (por enquanto) amigo, não serei mais o ex-namorado da sua atual e sim, sem nenhum arrependimento, o responsável pela sua demorada e dolorosa morte.
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