Corpos que se mostram e almas que se escondem
Deve ser bom conhecer alguém e dizer: “gostei demais de você”, sem que isso soe a um “vou te perseguir pelo resto da vida”. Deve ser bom poder dizer: “estou com saudade”, sem ter que sentir medo de que o outro ouça carência, desespero, grude.
Deve ser bom ter vontade de falar com alguém no meio do dia, da tarde, da madrugada e poder falar. Sem ficar com aquela neura de: “ele vai achar que sou louca”. Deve ser bom querer ouvir a voz, ligar e ser atendido. E não ficar encarando o celular por horas pensando no que o outro vai achar quando aparecer seu nome ali na tela.
Deve ser bom querer o encontro e ouvir do lado de lá um: “tô indo aí” ou “vem pra cá” e não ficar sufocado com a vontade de dizer “quero te ver”, imaginando o que se passa nos olhos de lá.
Deve ser bom ter alguém que se permita. Que sinta e que fale.
Deve ser bom não precisar criar uma personagem em si e no outro, e, ainda assim se sentir parte de uma história.
As relações estão cada vez mais efêmeras e vazias. É um olhar, um aperto de mão, um beijo, uma noite, um adeus.
Quase ninguém mais quer se conhecer, permanecer, ainda que por mais um tempo, ceder, mostrar-se, revelar-se, despir a alma. Corpos que se mostram e almas que se escondem. Assim andamos nós. Sós.
Deve ser bom conhecer alguém que queira ver a nossa alma nua.
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