Cuidado ao arrumar a bagunça do seu coração
Ao arrumar suas coisas, cuidado. Pode ser que você se depare com objetos esquecidos há muito tempo. E de propósito. Pode dar de cara com utensílios que nem sabia mais que existiam na saudade casa, mas que, um dia, foram muito úteis. Vai ficar resmungando e dizendo “nossa! Quanta velharia junta!” e não tendo o que fazer com tudo, vai dar um fim digno: o lixo.
Só que, ao arrumar coisas antigas, é preciso ter um cuidado maior com que ficou escondido sem valor mensurável pelo dinheiro, sem ser comido pela inflação e sem a possibilidade de julgamento entre servir/não servir. Porque se temos tendência a guardar um tanto de objetos sem usar, também possuímos o grande problema de não repararmos o que está sendo posto nas gavetas. E aí, ao revirá-las, volta
e meia encontramos sentimentos, momentos e pessoas que ficaram socadas juntos de seus cartões, fotos e memórias no armário.
Então, fica difícil encarar e dizer sem sentimento algum “pode jogar fora”. Na faxina que se promove para deixar tudo em ordem, não é difícil se pegar imaginando como tudo teria sido diferente se certas coisas tivessem caminhado para outros sentidos. Não duvido, inclusive, que o velho bilhete possa ser molhado por uma lágrima nova, mas guardada há muito tempo no coração. E nem ao menos se trata de dizer que se arrepende ou não.
Algumas histórias precisam de pontos finais para que a Vida continue seu rumo e para que o presente se faça.
Só é impossível não se perguntar: valeu? Revirar a casa e rearrumar tudo é quase uma visita a si mesmo. É encontrar o seu próprio museu e entender que ali você é espectador e artista principal. E a gente sempre espera gostar de ver o que aconteceu ao olhar para trás, não é? Espera-se que sim.
Entendeu o porquê do pedido de cuidado? Abrindo cômodas, rasgando papéis, descartando coisas e tirando roupas dos cabides você pode se dar conta de que muito mais ficou estocado no quarto, estancado na alma. Pode reabrir um cartão e se perguntar onde foi parar aquela pessoa, aquele casal, aquela história. Num arroubo de ansiedade misturado à coragem, vai querer ligar, procurar, sair correndo.
E em cinco segundos vai perceber que não é tão simples assim.
Não? A vida é simples, a gente é complica. Até porque, você bem sabe que essa arrumação toda só começou porque você queria achar uma blusa e, de gaveta em gaveta, resolveu colocar tudo de cabeça pra baixo. Pelo menos assim fica mais fácil de ver se a vida está do lado certo. E se não tiver, não se preocupe. Põe tudo no lugar e vai ajeitar realidade. Se o passado é uma roupa que não serve mais, o
presente precisa ser ajustado para caber melhor no futuro que for desenhado.
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