Desconheço coletes à prova de paixões
Queria tê-la conhecido em outra época. Quando em meu dedo não havia aliança e quando em minha casa, cheia de zelo, ainda não existia mulher me esperando para o jantar. Juro que queria tê-la conhecido em outro tempo. Quando eu ainda era livre para me apaixonar, por qualquer uma e sem a mínima culpa, e quando, sem medo de magoar, podia passar a noite toda rolando em outra cama. Queria, antes de ter dito “sim” ao padre, tê-la visto desfilar usando aquele vestido rosa e tentando, timidamente, fugir do meu olhar carnívoro.
Teria, talvez, cancelado o casamento, e hoje, provavelmente, meus filhos teriam olhos de outra cor. Se é que algum filho eu teria. Hoje, se por qualquer razão desconhecida do acaso, ela tivesse aparecido antes, eu não estaria pensando em largar aquilo que comecei sem saber como terminaria. Aliás, alguém aí sabe como as coisas terminam? Se eu a tivesse conhecido em outra época, não estaria disposto a partir antes que o teimoso filhote aprenda a me obedecer. Não estaria embriagado como estou e nem estaria pensando em, depois de fechar a conta e lavar o rosto, pedir ao taxista para me levar à casa, por enquanto, errada.
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