Diferente do amor, o tesão não é cego
No começo, quando o seu namorado queria lhe conquistar, ele andava sempre perfumado, cortava o cabelo com frequência, não deitava em sua cama suado, fazia regime para manter a forma e, por motivos óbvios, não usava meias furadas e cuecas frouxas. Hoje, três anos depois, ele aposentou o perfume, não apara mais os pentelhos, parece não se incomodar com o crescimento desenfreado da pança e vive a lhe horrorizar com o comprimento das unhas do pé. Foda, né? Tô ligado, tô ligado…
Mas saiba que você não é a única moça da galáxia cujo namorado, no quesito vaidade, transformou-se no oposto do Cristiano Ronaldo. Não mesmo. Nem a primeira a se relacionar com um cidadão que “embarangou” de maneira brutal e que trocou camisas cheias de estilo por camisetas do Corinthians que cheiram a churrasco grego com respingos de Skol quente. Claro que não! Ouvi dizer que a “desmetrossexualização” pós-conquista é um fenômeno que acontece nas melhores famílias. E que o relaxo, caso o seu namorado não leia este texto ou tome um pé na bunda, tende a aumentar. Não dá pra piorar? Ô se dá! Logo ele aparecerá de Rider no Natal da sua família, você vai ver. E, no próximo Dia dos Namorados, para contrastar com seu vestido novo e com a maquiagem que você aprendeu a fazer com a Camila Coelho, ele surgirá com olhos remelentos, chuteira nos pés e dedos sujos de carvão.
E está redondamente enganada se pensa que o “embarangamento” acontece apenas com portadores do cromossomo Y: muitas mulheres, depois de algum tempo de relação, adotam um estilo que eu carinhosamente chamo de “quero-ver-a-sua-piroca-levantar-agora”. O cara abre a porta do quarto e, em vez de encontrar a tesônica mina que nos primeiros encontros causava ejaculadas precoces na cueca, dá de cara com uma fêmea de ceroula bege e que ostenta, sem qualquer pudor, migalhas de bolacha ao redor do umbigo. Aí não dá.
O mais importante em uma relação verdadeira é a beleza interior, nunca duvidei disso, mas, em minha opinião, o total descuido estético – principalmente aquele que também pode ser classificado como falta de higiene e de amor-próprio -, entre outras coisas, demonstra descaso com o parceiro (a) e com o tesão dele (a).
Por favor, não pense que sou do tipo neurótico e demasiadamente exigente que chama de “esteticamente descuidada” a mulher que não consegue manter a elevação da bunda, a pele sempre maquiada, as unhas pintadas e a barriga chapada. Longe disso! Sei que ninguém neste planeta é imune aos efeitos corrosivos do tempo e ao magnetismo que as roupas velhas exercem aos domingos. E sei, também, o quanto ter uns “dias de mendigo” é mais do que importante em uma sociedade que vive a nos cobrar gravata e salto alto. Só acho que não deve abrir mão dos cuidados necessários para que o seu parceiro perceba o quanto você ainda faz questão de cativar o desejo dele, independente da quantidade de primaveras que já passaram juntos e das vezes que já se viram desempenhando atividades completamente broxantes. Entendeu? O mesmo vale para os homens, que comumente se esquecem de que pequenas demonstrações de amor-próprio e algumas gotas de xampu podem fazer com que a parceira, subitamente, pare de sentir dores de cabeça inexplicáveis. E comece a sentir, mais uma vez, vontade de trepar em todo canto, na chuva, na rua, na fazenda e numa casinha de sapê.
A vaidade, em doses exageradas, torna-se um veneno capaz de matar qualquer relação. Porém, um pouco dela é essencial para que o tesão não seque e para que o seu parceiro continue a admirar você. Ou você consegue admirar alguém que não tem um pingo de amor à carcaça que carrega? Não rola.
Para demonstrar amor, além de cuidar do outro, cuide-se! Pois o tesão, diferente do amor, enxerga bem à beça. E sem o mínimo tesão, cá entre nós, uma relação fica tão sem graça quanto Zorra Total.
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