E quem diria nós dois?
Hoje eu até consigo achar natural. É meio óbvio te ter na minha vida colorindo meus dias. Hoje é tão normal. Mas há um tempo atrás eu nem imaginava você. Eu sabia, porém, que eu merecia alguém do bem – todo mundo merece também. Só desacreditei quando você chegou.
A minha história antes de você é bonita de lembrar, mas a nossa é linda. Acho que não era para ter acontecido. Antes de sermos dois eu estava tão bem sendo um. Me aventurava em corpos confortáveis para acordar ao lado, lotava a minha agenda com encontros regulares. Havia dias que, inclusive, eu encontrava mais de uma pessoa. Mas a minha volta para casa era sempre igual: era sempre eu comigo mesmo. Isso era foda. E disso, confesso, nunca gostei.
A gente tem dessas, né? Saí vivendo coisas com pessoas, querendo viver uma coisa só com uma só pessoa. Eu acho que eu meio que tentava encontrar em todo mundo as coisas que só achei em você. Esse tipo de coisa, no entanto, não tem como prever. É preciso ser justo: Eu não esperava que você chegaria, por isso eu não me incomodava com a vida que eu tinha. Dos beijos na hora da despedida até às vezes do sexo descompromissado.
Como que eu falo sobre gostar de alguém sem falar as mesmas coisas que falam sobre gostar de alguém? É que eu queria inventar uma maneira de te provar que o que sinto é só por você. Queria te inventar um treco para te dar, outra coisa com outro nome que não fosse amor. Queria que tivesse com você algo que fosse só nosso.
E tudo isso porque o que sinto pela gente é algo completamente nosso.
Nós não somos as mesmas pessoas. Tivemos criações diferentes e temos até hoje gostos diferentes. Muitas vezes brigamos por essa incompatibilidade de desejos, mas se misturar tudo isso dá na receita de felicidade que temos provado. Se eu não sentisse o que sinto, já teria aberto mão da gente há muito tempo. Se eu não gostasse como eu gosto, já teria voltado para a minha vida cheia de coisas – embora confusas. Mas eu estou bem aqui. Estou bem com a nossa vida que faz até a rotina ser mais divertida. Estou bem quando penso e lembro: quem diria nós dois? Quem diria que as nossas vidas formassem uma só? Quem diria que, mesmo com todas essas diferenças, a gente estaria aqui hoje para contar história?
Ninguém diria. Mas tem coisas que ninguém precisa dizer; ninguém precisa imaginar ou planejar. Tem coisas que a gente só precisa viver. Tantas coisas. Tem carinho e tem toda a vontade de fazer bem a outro alguém.
Hoje eu até consigo achar natural. Por mim tudo bem você ser a louca das coisas de papelaria, enquanto eu sou o louco da música. Hoje é tão normal. Hoje é tão nosso. Hoje somos tão nós.
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