Entre o fim, a conversa e o silêncio
Se sentir sozinho em uma relação é uma escuridão difícil de enfrentar. É uma sensação que aperta o âmago, faz chantagem e te deixa com poucas, e injustas, opções. Entre o fim, a conversa e o silêncio, a gente pisa em espinhos e machuca os pés, pois não há outra opção; decidir é difícil, até para os que dizem ter tanta certeza sobre o que sentem. Brigas bobas são os pratos mais pedidos do cardápio. Acompanham sobremesa? Hoje, não… As conversas não fazem mais tanto sentido, são repetitivas, cansativas e cheias de verdades unilaterais. Conversar? Com quem não quer ouvir? Árduo, complicado. O silêncio já foi um conforto longo demais, hoje, o silêncio não é mais sábio, muito menos maduro, mas um constante desperdício de tempo por acreditar em uma alegria que somente faz juras de amor no passado. O fim, ah, o fim… sobre ele? Nada sei, mas preciso admitir que sinto um medo filho da puta de colocá-lo nas páginas da nossa história.
Sentir que a solidão é uma companhia mais reconfortante que o beijo de quem dizemos amar, é uma dor que sentimos sozinhos e não temos com quem dividir. Não gostaríamos de sentir essa tempestade de sentimentos, seria tão mais fácil se pudéssemos nos contentar com uma chuvinha de domingo, regada de amor e carinhos, mas fazer o quê se a necessidade de amar loucamente consome a leveza dos meus ombros? Acontece que mesmo que dividamos essas nossas sensações, eles pouco saberiam dimensionar as nossas dúvidas estranhas, sem sentido, e que surgem feito pingos de chuva em nossas cabeças. Ninguém entenderia como os pensamentos se arborizam, criam raízes e caules, dentro do nosso peculiar e inconstante universo. Tristemente, quem vê meu sorriso aberto, eufórico, não imagine a tempestade de loucuras que despencam na marquise do meu coração.
Não saber se você ainda gosta de alguém não é algo tão simples como parece, principalmente com o passar do tempo que mescla pouco a pouco os gostos, as vivências, as rotinas e os sorrisos. Muitas vezes nem há grandes motivos para querer desistir do que há tempos dizíamos ser amor, é “só” o coração que parou de dançar em ritmo de carnaval, é só o beijo que não parece mais ter o encaixe perfeito… mas, por quê? Não pare de dançar coração, ainda é tempo de alegria! – grito internamente. Dói questionar o porquê de algo que não temos controle, como se a culpa fosse nossa ou da pessoa que convive conosco, mas, infelizmente, não adianta perguntar, o coração não sabe responder perguntas vindas da razão.
Eu sei que querer segurança no amor febril é uma insanidade, a gente quer garantia demais para se entregar, e de garantia mesmo só o momento vivido e o sorriso de poucos segundos atrás; amor sem uma pitada de insegurança, sem medo do erro, do adeus desnecessário, não é amor. Acontece que eu não sei amar sem morrer de amores; seria esse o mal da alma de quem só sabe amar com tamanha intensidade?! Quando sinto a invasão desses sentimentos, dessa minha intensidade que insiste em olhar com desprezo para a minha calmaria (que cada vez mais dá as caras), entro em colapso e me pergunto dentro de um silêncio que só cabe a mim: será que devemos nos contentar com os avisos do coração e obedecê-los como se a nossa razão não entendesse nada de amor? Será que um dia as lindas lembranças do passado e a certeza de que somos tão legais juntos, irão vencer a inquietação do coração!?
A verdade é que a necessidade do amor febril é um mal da alma que ninguém tira, e poucos sabem lidar, e se sabem é porque não sentem. Calmaria e intensidade nem sempre andam de mãos dadas. Eu sei, eu sei, seria tão mais fácil amar sem perguntar o porvir, sem achar que a sensação de calmaria faz parecer que a vida perdeu a parte intensa, seria tão descomplicado se fossemos peças de um quebra cabeça que se encaixa e não muda de forma, mas a gente muda tanto… Silêncios, conversas e adeus, são opções injustas demais para quem só quer continuar amando como se fosse a primeira vez. Injustíssimas.
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