Estou sozinho, mas feliz por ter a minha própria companhia
Hoje, voltando para casa, consegui ver no reflexo da janela do carro o meu rosto. A cidade brilhava ao fundo, o trânsito me deixava cada vez mais distante do meu destino. De todo jeito, como dirigir o meu curso não dependia de mim, resolvi refletir sobre a vida, sobre as emoções, os sentimentos e os amores que tive.
A verdade é que a minha vida toda foi uma sucessão de – fica, por favor – ou ainda, recheada de tantos outros – eu entendo que você não me ame, mas eu gosto de gostar de você. Quase nunca, quase nunca mesmo, estivemos eu e o amor presentes no mesmo espaço. Ou eu chegava quando ele já havia ido, ou ele chegava quando eu estava atrasado. De toda forma, só nos esbarramos, por acaso, pouquíssimas vezes. Nenhuma delas terminou bem.
Depois de tantos tropeços, depois de tantos batimentos cardíacos acelerados, descompassados, desacelerados e, principalmente, depois de todas as vezes que não consegui frear os meus sentimentos e acabei me machucando demais, aprendi a ser sozinho. Acho que algumas experiências ruins servem para que a gente valorize a própria companhia.
Nunca fui alguém que já havia experimentado viajar sozinho, ir a um show, comer pizza, sushi, ver um filme sozinho. Mas, desde que passei a não ter as pessoas que tanto desejava, comecei a não me privar de mais nada por não ter certos amores. É que a gente menospreza a própria presença e insiste em ter alguém ao lado, mesmo que seja só de enfeite, mesmo que, de fato, não seja para durar. Não eu. Não mais.
Hoje, aprendi que não preciso viver numa eterna entrevista de emprego para o cargo de – amor da minha vida. A vaga está aberta. Não tem anúncio no jornal, não precisa de currículo, não precisa de experiência comprovada, mas precisa ter proatividade, disposição, boa vontade e, sobretudo, sentimento. Principalmente esse último.
Ver o meu reflexo meio borrado no vidro daquela janela me fez perceber o quanto mudei nos últimos tempos. Me fez, de fato, olhar para mim com outros olhos. Com a correria do dia a dia, a gente acaba nem se vendo, nem se olhando, nem se sentindo direito. Foi bom me sentir dono do meu próprio nariz outra vez. Estou solteiro, estou sozinho, não como eu gostaria de estar, mas feliz por ter a minha própria companhia. É isso que chamam de se bastar. Aprendi. Entendi. É, até que não é tão ruim assim.
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