Eu me apaixonei por alguém que não existia
Vamos ser sinceros um com o outro moreno? Nós dois sabemos muito bem que eu nunca me apaixonei por você, pelo menos não de verdade. É difícil de admitir isso, mas nunca foi você o homem dos meus sonhos, o meu príncipe encantado. Nem mesmo por um segundo ou um milésimo dele ou um instante ou sei lá… nunca foi, nunquinha da silva! E isso pode parecer loucura pro resto do mundo que me viu chorar tantas vezes e insistir uma porção de outras e correr atrás de você até ficar sem ar, mas a gente sabe que essa é só a realidade nua e crua, cuspida, vomitada. Eu nunca me apaixonei por você porque durante todo esse tempo eu fui completamente apaixonada por um cara que não existia, que nunca existiu. Um cara que eu inventei pra suprir tudo o que você não era, o que não foi capaz de ser.
Eu me apaixonei por tudo o que você não fez, mas eu queria que tivesse feito. Me apaixonei por cada declarações de amor nas entrelinhas que você não disse, pelas vezes em que eu achei que cê ia aparecer de surpresa em casa porque a saudade tava punk e tive de dormir sozinha, pelas ligações no meio da tarde que nunca chegaram no meu celular, pelas mensagens de bom dia que você não foi capaz de dar, pelo boa noite que eu ficava esperando até pegar no sono. Me apaixonei por cada filme que a gente não viu junto, pelos jantares românticos que eu não tive a sua companhia, pelas festas em família que você não me convidou pra ir junto, pelos sorvetes que a gente não dividiu, pela aquela viagem pelo Brasil que a gente não combinou e por cada vez que seus amigos te perguntavam o que a gente tinha e você dizia “ah, a gente sai de vez em quando”… não era isso o que eu queria ouvir, e eu me apaixonei pelo que você não disse, porque eu queria que você gritasse pro mundo que a gente tava junto e que se amava, mas você dava de ombros e mudava de assunto.
Eu me apaixonei pelo nome dos filhos que a gente não discutiu, pela casa na praia que a gente nem pensou em comprar, alias você gosta de praia? A gente nunca falou disso. Eu me apaixonei pelos seus defeitos que eu não conheci, menos pelo seu egoísmo que me manteve esse tempo todo pra fora da sua vida. Eu me apaixonei por aquele beijo no meio da chuva, igual aqueles de cinema, que a gente nunca deu, pelas flores que nunca chegaram na minha casa, pelas cartas que você não fez, pelas fotos que você não quis tirar, pelo “fica um pouco mais” que você nunca me disse. Eu quase me apaixonei por você, mas ai eu te disse que tava indo embora e você sequer perguntou o motivo, sequer quis fazer algo preu não ir, ai eu tive que me apaixonar por alguém que não exista pra poder continuar, porque ele, o cara que eu inventei, teria perguntado o que tava acontecendo, teria segurado a minha mão e percebido aquela indiferença toda estava acabando comigo.
Eu inventei um outro você. Criei o homem perfeito, dos sonhos, que fazia tudo o que você não fazia. Que não saia correndo da minha casa depois de ter o que queria, que dormia comigo sem medo de acordar no dia seguinte e pensar que fez merda, que entendia que o encanto da relação não é o sexo, é a companhia, é a presença, é o ficar abraçado depois e se dar conta de que aquela é a melhor hora. Eu idealizei uma pessoa que não vivia destruindo as minhas expectativas, que não fazia de tudo pra me convencer que não ia dar certo, porque queria que desse de um jeito que você nunca quis. Eu me apaixonei por outra pessoa, por outra história, por outro relacionamento. Eu me apaixonei por coisas que nunca existiram, porque você não quis deixar existir. Eu me apaixonei por cada momento que você estragou, pelo futuro que a gente não planejou, pelo casamento que a gente não programou, pelas lembranças que a gente não vai ter.
Eu não me apaixonei por você, eu me apaixonei pelo que eu queria que você fosse, mas pequeno desse jeito que cê é, nunca ia dar pra você ser mesmo.
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