Eu morro de medo de morrer
Eu detesto começar textos com “eu não entendo”, mas hoje não posso me furtar. Eu não entendo como tem gente que não tem medo de morrer. Sério. Não consigo conceber uma pessoa que não tenha medo de acabar tudo, de não conseguir comprar aquele Aston Martin, de nunca receber uma massagem tailandesa na Tailândia, enfim, de não saber se um dia a humanidade seria quase extinta e você e a Luana Piovanni seriam responsáveis por repovoar todo o planeta.
Eu morro de medo! Imagina se eu morro e não termino de ver as temporadas atrasadas de Dexter? Sem ver o Fluminense campeão mundial? Sem – DEUS! – conseguir ver todos os filmes do Woody Allen que eu minto que já vi? E se pra onde eu for me pedirem pra explicar os filmes? Vou morrer como uma fraude! Isso sem falar no medo de morrer e não ter nada do lado de lá e você nem ficar sabendo disso, porque não vai ter nada, nem você! E como não vai ter nada, você nem vai ter tempo de saber disso, porque você vai deixar de existir.
Mas pra mim o pior é a morte iminente. Quando você tem certeza absoluta de que vai morrer, como em uma queda de avião ou quando você sente um tubarão mordendo a sua perna. Já era, você já sabe que vai morrer. Deve ser desesperador saber que o nada absoluto te espera – ou o paraíso ou o inferno. E se eu morrer enquanto estiver indo devolver um DVD na locadora, quem vai devolver? Será que a locadora aceitaria abrir mão da multa? E se você morrer e o forno estiver ligado? Será que dá pra voltar do pós vida pra avisar à sua mulher pra ela desligar o forno antes que a casa pegue fogo? É tanta coisa pra fazer aqui que não dá pra não ter medo de morrer.
Na verdade eu não tenho medo de morrer, tenho medo de estar morto. De não estar mais vivo. De não poder mais comer bolo de nozes, de não ver mais o Flamengo na zona de rebaixamento do campeonato brasileiro ou – DEUS! – morrer sem conseguir cancelar a internet que você tinha em 1997 e até hoje eles não cancelaram. É muito injusto as pessoas morrerem. Acho que Deus deveria rever essa coisa de morrer. Ou pelo menos adiar. Por uns trezentos anos. Como é que uma pessoa pode morrer tranquila sem ver os seres humanos morando em Marte, sem ver carros voadores ou sem ver a filha da Xuxa na capa da Playboy com a Manchete: “A baixinha cresceu!” Nada mais injusto.
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