Eu não te esqueci
Eu não queria te falar isso, mas é verdade. Eu não te esqueci. Não é orgulho nem nada disso, é só que, hoje em dia, isso não te diz mais respeito. Por isso eu não vou te dizer, mas se você vier aqui e ler, a culpa não é minha, você sempre foi enxerida mesmo. Mas se você vier, vai ler que eu não te esqueci. Nem por um segundo. Nem durante outro beijo, durante outra noite, durante outro abraço, nem durante outros cafunés, durante outras palavras de amor, e muito menos durante outros planos. Até porque, depois de você não houve outros planos.
Aliás, geralmente essas coisas funcionam pra mim. Beijos, abraços, sexos, noites, cafunés, planos, essas coisas geralmente me fazem esquecer alguém bem rápido. Bom, dessa vez não só não funcionou como piorou. Nenhum beijo é o seu, nenhum abraço é o seu, nenhum cafuné é o seu, nenhuma palavra fofa é sua e nenhum plano é nosso. Nenhum deles. Nenhum olhar de reprovação pelos meus planos malucos é o seu, nenhuma DR interminável como nós adorávamos é nossa, e nenhum frio na barriga quando eu te vejo é o seu. Nenhuma ansiedade pra ver se a mensagem que chegou é sua é igual à que era com você. Nada é igual. Mas fica a dúvida, será que aí desse lado os beijos são iguais? Os cafunés, a cumplicidade, o carinho, a atenção, os planos que, por mais que você odiasse todos, te faziam feliz só pela minha empolgação em termos e sermos algo nosso, será que são iguais? Não sei e não vou ser leviano de dizer que não.
Sabe, sempre que eu vejo uma comédia romântica eu penso nos coadjuvantes. Na gordinha rejeitada pelo mocinho, no cara abandonado pela mocinha para ficar com o herói. Será que eles achavam que o filme era deles? Será que eles achavam que era os protagonistas? Com você, eu achei. Achei que o filme era nosso, meu, seu, meu e seu. Mas não era, eu fui só o coadjuvante legal que foi deixado e no final do filme vai aparecer nas cenas pós-créditos se apaixonando por alguém. Cena esta que ainda não aconteceu, só pra deixar registrado. Mas também pode ser que esta seja aquela parte do filme onde um acha que é feliz sem o outro, e o outro curte meses de fossa sem o outro. O da fossa, no caso, sou eu. Mas eu penso isso só pra me animar, na verdade eu já aceitei que eu fui um coadjuvante na sua história, embora você tenha sido protagonista na minha. E nenhuma história é a nossa, nenhum filme é o nosso, nenhuma piada de comédia romântica é a nossa.
Mesmo que o filme não seja nosso, nenhuma cena vai ser como a nossa no Bosque, na praia, nenhuma conversa séria e romântica vai ser como a nossa no ponto de táxi, nenhuma cena mais quente será como você pulando no meu colo no carro dentro do estacionamento do Shopping, e nenhum primeiro beijo vai ser como o nosso, com você correndo para o banheiro no exato segundo em que percebeu que queria sim me beijar. Bom, era isso. Caso você tenha vindo aqui bisbilhotar, saiba que foi ótimo ser coadjuvante no seu filme e que, se no final, o filme for nosso, você vai me pagar por ter feito eu pensar esse tempo todo que era um coadjuvante que nem tem nome. Bom, eu sugiro “Rapaz de brincos”, “Garoto do Bosque” ou “menino apaixonado 01”.
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