Eu queria ser um Lindt
Acho que ela nunca soube das coisas que penso. Nunca me perguntou, também. Ela não é muito de fazer perguntas sobre sentimentos, essas coisas.
“Não sei responder todo o processo do ar quando entra pelo meu corpo e organiza todo o meu sistema respiratório. Eu só respiro. Explicações cientificas estragam a graça das coisas cotidianas”, ela diz.
Ela não fala inglês, mas já se aventurou com gringos por aí. Nunca soube como, mas tenho certeza que seus olhos são poliglotas.
Ela tem todas esses esquisitices que quase ninguém suporta, eu sei. Ninguém com aquele par de olhos que combinam com o teu nariz pontudo que se escorrega àquela boca consegue ficar solteira por muito tempo e eu logo desconfio que ela deve ser difícil demais de aguentar em dias ruins.
Ela gargalhou sem parar por uns longos quarenta segundos e disse:
“Em dias bons, não quero ficar presa à ninguém. Nos dias ruins, só penso em chocolates e filmes engraçados.”
E eu me calei sem graça, pensando numa forma de me transformar num pedaço de Lindt ou coisa assim.
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