Faltava vocĂȘ

Eu estava no bar, no mesmo bar, que vocĂȘ tinha combinado de ir com as suas amigas, mas desistiu porque estava cansada demais do dia de trabalho.

Eu estava no voo para SĂŁo Paulo que vocĂȘ perdeu porque nĂŁo escutou o toque do despertador do celular. E sim, nossas poltronas eram uma do lado da outra. O destino nĂŁo foi discreto tentando nos juntar dessa vez, mas vocĂȘ foi, nĂŁo aparecendo. PorĂ©m, eu estava lĂĄ, e, na hora, atĂ© achei Ăłtimo nĂŁo ter ninguĂ©m do lado, sobrava mais espaço. Mal sabia eu que ali faltava vocĂȘ.

Eu estava no jogo de vĂŽlei que vocĂȘ deixou de ir para ficar assistindo aquela sĂ©rie que vocĂȘ fala para todo mundo assistir tambĂ©m e que eu jĂĄ vi, trĂȘs vezes, porque realmente vale a pena.

Eu estava na festa do Lucas, mas vocĂȘ tinha ido embora um pouco antes de eu chegar porque o seu pai nĂŁo estava se sentindo bem. VocĂȘ tinha pedido uma mĂșsica Ă  banda antes de ir, e, eles anunciaram o seu nome, dizendo, “essa Ă© para vocĂȘ” e começaram a cantar “Everthing works out in the end”, Kodaline. Triste, pensei. Procurei por alguĂ©m triste que pudesse ter pedido a mĂșsica, mas nĂŁo achei ninguĂ©m. NinguĂ©m havia se pronunciado, ninguĂ©m prestava atenção, mas eu a ouvi e te conheci um pouco, sem saber.

Eu estive em muitos lugares nos quais vocĂȘ deveria estar, Clarice. NĂłs nos desencontramos tantas e tantas vezes e eu nĂŁo sei se foi culpa sua, minha ou sĂł uma brincadeira do nosso querido amigo, destino. O que eu sei Ă© que sempre faltou algo em mim, perto de mim, atĂ© vocĂȘ chegar.

E agora, vocĂȘ quer ir embora e eu nĂŁo sei o que fazer. VocĂȘ jĂĄ se foi tantas vezes antes da gente chegar atĂ© aqui. A diferença Ă© que eu nĂŁo percebia vocĂȘ indo, devido a nossa distante proximidade, eu nĂŁo via. Mas, agora, eu vejo esses olhos verdes antes de dormir e nĂŁo quero deixar de ver.

Lembra que foi por causa dos seus olhos que a gente se conheceu? Eu estava na fila do supermercado e vocĂȘ chegou, ficou atrĂĄs de mim. Virei para ver quem estava se adiantando e colocando as compras na esteira. JĂĄ estava nervoso porque eu nĂŁo gosto de gente apressada. AĂ­ eu vi seus olhos, depois o seu sorriso e foi isso. Me perdi. Eu disse: “Que olhos azuis bonitos”. “SĂŁo verdes”, vocĂȘ respondeu e continuou colocando suas coisas na esteira, mas eu jĂĄ nem ligava mais. “Que olhos verdes bonitos”, falei tentando fazer graça. “Obrigada”, e vocĂȘ riu. “Me chamo Pedro, prazer”. “Clarice”.

VocĂȘ deixou o celular cair quando foi me cumprimentar, entĂŁo o peguei e vi, sem querer, a mĂșsica que tocava. E foi assim, Clarice, que eu soube que era vocĂȘ. Eu nĂŁo precisava te perguntar porque eu nĂŁo tinha dĂșvidas. Era vocĂȘ. O Universo tinha, finalmente, colocado nĂłs dois no mesmo lugar, no mesmo momento e com uma dica para eu saber que era vocĂȘ esse tempo todo. Todo o vazio que eu sentia, as entrelinhas das mĂșsicas que eu ouvia, o impulso para sair de casa, era vocĂȘ.

EntĂŁo, nĂŁo me deixa, Clarice. VocĂȘ jĂĄ me deixou esperando tanto. Sua mĂșsica diz que tudo se acerta no final. Eu nĂŁo quero final, mas quero me acertar com vocĂȘ.

Me liga, Clarice.

Eu te amo.

Assinado: Pedro.

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