Felicidade, bacon e sucesso em liquidação
Eu não gosto de bacon. Nunca gostei. Sei que é uma revelação e tanto para se fazer assim, logo de cara, de supetão. Desde a infância convivo com julgamentos implacáveis por isso. “Como assim você não gosta de bacon? Bacon é a melhor coisa do mundo. Eu não confio em quem não come bacon…”. É… Eu não como. Já tentei apreciar a iguaria preparada de todas as maneiras possíveis mas não tem jeito: o sabor da gordura me incomoda e todo o crec-crec nos dentes de trás me causa aflição.
Nunca compreendi toda a devoção que a maioria das pessoas tem pelo bacon. Sempre me perguntei, indignada, por que para elas o bacon proporciona tamanha alegria e aconchego e a mim ele só causa nojo e aflição? Confesso que durante muito tempo me senti estranha por isso. Hoje já me conformei: todo o mundo gosta de bacon; eu não.
Aprendi, seguindo a lógica do bacon, que a experiência que me proporciona alegria e satisfação pode não provocar o mesmo sentimento àqueles que estão à minha volta. Aprendi que devo respeitar essa diversidade. Aprendi, por fim, que não há receita para alcançar a alegria que sirva a todos. Há quem a encontre em bacon; há quem a encontre em chocolate; há quem a encontre em um pedaço insosso e sem graça de pão.
Desconfio que tenha sido também por meio dessa chula percepção que eu descobri que se incomodar com a fonte de felicidade alheia pelo simples fato dela ser diferente da sua é sinal de narcisismo, prepotência e intolerância. Não há modelos ou guias para a alegria. Cada um experimenta a satisfação segundo a sua própria sensação.
É justamente por isso que eu fico indignada com a quantidade de pessoas que tenta vender fórmulas prontas para alcançar a felicidade. Entro em livrarias e deparo-me com prateleiras infindáveis de capas que prometem ensinar a receita da vida feliz, do namoro perfeito e da rotina agradável e me pergunto, ainda indignada, como pode alguém achar que a receita que lhe serve é uma unanimidade?
A diversidade me faz acreditar que não existe fórmula certa para levar a vida de maneira leve e agradável. Cada indivíduo, sujeito das suas próprias sensações, precisa identificar aquelas que lhe proporcionam maior alegria. Seguir fórmulas alheias é fonte de ainda mais frustração. Fato é que não haveria tristeza no mundo se existisse a fórmula da felicidade e do equilíbrio em dez lições. E ainda que existisse, eu tenho certeza: ela não estaria à venda nas melhores livrarias do ramo por R$ 29,90 em suaves prestações.
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