Fique para o café
Quem sabe, apenas por um dia, você desista de resistir e, sem medo do seu chefe carrasco e de enroscar seu coração, permita-se ficar para o café. Gosta do seu com duas colheres de açúcar, acertei? Como é que eu sei? Você me disse. Não se lembra? Falou em um daqueles momentos em que, por saber que estava sendo atentamente ouvida, permitiu-se não poupar palavras e cuspir amenidades. Falou, entre uma risada e outra, acreditando que os mínimos detalhes do seu discurso seriam esquecidos. Mas não foram.
Cada minúcia dita por você, pela minha memória – baú que insiste em dar abrigo a pequenos tesouros – foi guardada. Se desistir de colocar a calça e finalmente tomar coragem para ficar, prometo que não deixarei a gema do seu ovo estourar. Ou acha que me esqueci do dia em que me disse que ama ovo frito – com gema mole – dentro do pão francês? Claro que não. Confesso que esqueço o nome de algumas tias e que costumo chamar agrião de rúcula. Mas, enquanto eu olhava para o teto com um olhar aparentemente perdido, eu anotava, em algum lugar de mim, aquilo que você dizia, enquanto deixava a cinza do seu cigarro cair sobre o meu edredom.
Fique, por favor! O café da manhã – assim como a massagem no pé, o beijo na nuca, e a sessão de caretas – faz parte do pacote. Deixe para procurar a sua calcinha depois do suco de abacaxi e para me pedir ajuda para fechar o seu vestido depois de se lambuzar com Nutella. Ou acha que me esqueci do quanto é tarada por essa lava deliciosamente achocolatada? Habemus Nutella! Sim, já pode comemorar. Nutella na dose certa para convencer você a ficar. Se bem eu preferia que ficasse somente por minha causa e por saber, de uma vez por todas, que em cada café que eu tomo sozinho, sonho em ter você no próximo. E aí, vai ficar?
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