Infância: um lugar não tão bom assim
‘Ah, eu era feliz e não sabia’. Esse é o grande clichê de quando alguém se refere à infância. Aquele curto momento da vida em que nada parece importante aos olhos adultos. O mundo infantil, tão distante de nós ‘grandões’, é colorido demais para enxergarmos o cinza que ele carrega. Tão colorido que, vejam só, até tomou conta do Facebook.
Antes que me chamem de cricri, eu afirmo: acho bem legal ver os amigos em suas épocas de fraldas, legos e bonecos(as); mas meramente pela curiosidade. Não me peçam para associar fotos da infância com felicidade.
Já que exercícios de memória são mais difíceis para mim, façamos um exercício de filosofia: criança não segue apenas instintos, portanto, não é bicho. Não precisa apenas de mamá e Galinha Pintadinha; há necessidades existenciais em jogo, onde há necessidade existencial há sofrimento, logo, criança sofre.
Infância é aquele momento em que não temos autonomia de porra nenhuma. Aqueles que desde cedo têm tendência de guiar a própria vida sofrem aí as primeiras frustrações. Há o autoritarismo dos pais, pois, acreditem, não é todo familiar que lida bem com o ‘escolher o melhor para o filho.’ Muitos pais crêem ter as fórmulas do crescimento ideal e obrigam os pequenos a se moldar conforme interesses adultos. São dois os tipos mais opressores de pai e mãe: aqueles que projetam nos filhos algo que não conseguiram ser e aqueles que obrigam o filho a repetir uma trilha explorada por eles próprios. Autoritarismo é – quase por definição – o completo desrespeito à individualidade. Nomeiem como quiserem, eu sempre chamei isso de agressão. Pura agressão psicológica.
Quando pequenos somos integralmente guiados, controlados, reprimidos; ora, como pode ser o momento mais feliz da vida de alguém aquele em que era escravo das vontades e das decisões alheias?
Minha opinião é que a infância – definitivamente – não é a melhor fase da vida. É apenas a mais inocente. Inocência é ausência de compreensão, a pouca capacidade de agir sobre si. E, particularmente, não compreender coisas e, por isso, não poder agir sobre elas tem pouco ou nada a ver com ser feliz.
Portanto, a minha foto de Facebook permanece intacta. Nela eu respiro liberdade, deixo pra lá os tempos de obediência inocente e comemoro o hoje; o livre dia de hoje.
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