Infinita madrugada
Temo pelo leite derramado, pela noite mal dormida e pelo corpo mal amado que espera uma saída. O último gole me atormenta, o último trago me maltrata, o último beijo pesa tanto que nem sei como não me mata.
Ando vendo seus lábios nas quinze rachaduras do meu assoalho. Tenho visto seus olhos nos vinte e nove furos do meu teto preto. De que me valem os princípios da sanidade se os fins da loucura me são mais presentes? De quanto tempo preciso para entender que é falho o nosso quociente?
Hoje era dia de visitar os velhos costumes do meu passado, procurar alguma disposição e todo o resto que me tem faltado. Mas ainda é madrugada, há muito tempo é madrugada, desde Janeiro é madrugada, estamos chegando a Outubro e nada.
Levanto-me como se fosse desistir e deito-me como se fosse adiantar. Esperneio como se fosse sorrir e gargalho como se fosse chorar. Leio como se fosse ouvir e ouço como se fosse cantar.
Mas no fim das contas nada, nada da madrugada passar.
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