Lipoaspiração e fisioculturismo para crianças
Aí um sujeito pacato como eu está navegando pela internet enquanto come um sanduíche e de repente se depara com uma matéria sobre fisioculturismo infantil. O sujeito, no caso eu, quase morre engasgado ao ver imagens como estas:
A menina no centro, Maughan Wellham, tem 10 anos de idade, e já está por aí, competindo em concursos de fisioculturismo pelo mundo afora. Quando vi essas fotos, pensei: “é o fim do mundo!” Mas pobre de mim, nem suspeitava do que encontraria na internet logo a seguir.
Passado o susto, umas clicadas depois cheguei na terrificante notícia de que uma mãe inglesa deu como presente de aniversário para sua filha de sete anos uma cirurgia de lipoaspiração.
Pelo que entendi, é um “vale-lipoaspiração” para que, quando adulta, a menina possa usar. Naquele momento, recusando-me a crer no que meus olhos liam, parei tudo que fazia e fiquei aguardando que o mundo acabasse. Foi como se na Bíblia, mais exatamente no livro do Apocalipse, estivesse escrito no Capítulo XI, versículo 20 o seguinte:
“E então o oitavo anjo tocou sua trombeta, e vi surgir dos céus uma criança loira como um querubim, abraçada a um ser com corpo de mulher e cabeça de perua histérica, segurando nas mãos um vale-lipoaspiração. E depois disso as nuvens se abriram e ouvi uma voz no firmamento anunciar: ‘Que o fim do mundo comece agora!”
O que estamos fazendo com as crianças, ao colocarmos tão cedo em suas cabeças os padrões malucos de beleza dos adultos? Quando foi que decidimos acabar com a infância das meninas, para que elas deixassem de ser tratadas como meninas e passassem a ser consideradas “mini-mulheres”? Se entupir uma criança de doces até ela ficar obesa já é errado, não é um verdadeiro crime impor a elas padrões estéticos que já tornam a vida das mulheres adultas uma árdua corrida em busca de uma perfeição impossível?
São crianças que deveriam estar comendo sorvete, brincando no pátio, correndo de bicicleta e comendo fruta no pé. São seres humanos que ainda não completaram seu desenvolvimento físico e mental, e deveríamos estar cuidando para que construam seus sistemas de valores e desenvolvam saudavelmente seus organismos. No entanto, muitas crianças acabam se tornando um “laboratório vivo” para pais que desejam “moldar” seus filhos como se pudessem realizar através deles seus próprios sonhos frustrados.
Mas estou errado. O fim do mundo não chegou ainda. O fim do mundo será quando as crianças, tentando atingir os ideais malucos de perfeição que os adultos criaram em seu mundo doido, começarem a ter transtornos mentais e precisarem tomar antidepressivos.
O que? Pode repetir? Isso já está acontecendo? Antidepressivos para crianças???
Senhoras e senhores, só nos resta aguardar a oitava trombeta soar no Apocalipse. O último que ficar apague a luz, por favor.
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