Más experiências são fundamentais
Para todos aqueles que não acreditam em milagres – eis a história do nosso desamor. Um conto de fábulas, recheado de lições de moral. De aprendizados. Lágrimas, ainda que não opcionais, mas que aprendi a conviver. A não rejeitar. A aceitar como parte de um processo natural que se chama: fechar ciclos.
Te amei como eu nem sabia que era capaz. Me entreguei como eu nunca havia pensado em fazer antes. Sempre condenei, para ser sincero, quem se jogava de cabeça num relacionamento. Quem perdia o chão, o rumo, por alguém. Quem resumia a vida no namoro. Naquele momento. E quebrei a cara. Só para variar.
Sempre acontece. Ou melhor, acontece todos os dias, nos quatro cantos do mundo. Um amor que, sem a menor cerimônia, vira dor. Um sorriso que murcha feito rosa ganhada de aniversário. Que seca dentro das páginas da nossa história. Que vira pó. Que some como se nunca houvesse antes existido.
O mais curioso no amor é isso – ele é feito de clímaces. Quando começa. Quando termina. Tudo é intenso. Ao menos comigo, sempre foi assim. Sou sempre oitenta. É que acho que o oito não me cabe. Não por inteiro. Fica faltando algo. Talvez esse meu gigantesco coração que tem a mania de dar abrigo ao mundo.
Sofri, viu?! E te juro, deixando todo o meu exagero de lado, achei que nunca fosse parar de doer. Sentia que sangrava. Que escapava pelos poros. Pelas lágrimas dos olhos. Mas… Tem coisa mais mágica do que quando o mundo gira, para no mesmo lugar e – não dói mais? Te garanto: não tem.
É como sentir a pior das dores de cabeça e pegar no sono tentando escapar dos labirintos que comprimem teu corpo em forma de dor e, na manhã seguinte, sentir a paz. Se livrar daquele peso. É mágico! É… Surreal. Não existe palavra que melhor se enquadre.
Hoje, depois de tantas noites perdidas remoendo o nosso passado e procurando meus possíveis erros, nos perdoei. Tanto a mim quanto a você. Cada um de nós por seus respectivos 50% de culpa. Mas, também, de acertos.
Decidi reconstruir a minha vida. Escrevi um novo roteiro para a minha história e estou seguindo. Com um coração novo. Transplantado de mim para um novo eu. Mais maduro. Sóbrio. Experiente, mas nunca, eu disse – nunca desacreditado no amor. Más experiências são fundamentais para darmos valor às boas. Às próximas. A fila vai andar, em bom português de bar.
Estava procurando a escrita correta de uma palavra e, sem querer, vim parar aqui. Li seu texto e lembrei do poema “A rua dos cataventos” de Mario Quintana:
“Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!“