Mau humor?
Desejo que todo mau humor seja curado com uma bela noite de amor com a pessoa amada. Daquelas que nos deixa exaustos e não nos dá nem o tempo para conversar. Nem ao menos uns cinco minutinhos dentro daquela conchinha preguiçosa. Só queremos saber de dormir. Daquelas que nos faz perder o rumo de casa e acordar no dia seguinte pensando pelo que fomos atropelados. Quem anota a placa do Prazer? A dor física passa ao primeiro analgésico ou massagem feita, mas a satisfação da alma perdura dias à fio, sendo visível a todos que encontram.
Você tá diferente, dirão. Ainda bem, você responderá.
Uma noite daquelas que nos faz repensar em todo o histórico recente e antigo, fazendo concluir que há tempos não se vivia um prazer tão intenso, uma delícia tão gostosa, um gozo tão reconfortante. Daquelas que provocam uma alegria espontânea. Felicidade é por nada. O céu nublado é quase motivo de festa. O calor é suportável. As contas atrasadas não tiram o sono. Deixamos tudo pra depois. Aí, os sorrisos se multiplicam pelas horas. Até quem nos vê na fila do pão sabe que gozamos gostoso. Nesse momentos, sabemos, haverá quem olhe meio atravessado.
Um mau humor que nos era comum, mas que foi exorcizado com aquela noite de sexo. No banco, esperando ser atendido, alguém dirá “esse daí tá feliz”, “essa daí está saciada”, “esses daí fizeram muito ontem”, e outro comentários por aí irão, podendo usar de mais um tanto de outras expressões. Desejo que essa ignorância que às vezes temos de graça com o outro possa ser apenas uma negligenciada falta da coisa, que certamente tem seu viés de necessidade física – não apenas emocional. É bom para soltar hormônios, descarregar expectativas, canalizar energias negativas, se livrar do que não faz bem. Jogar fora o mau humor.
Entretanto, se não houver amor no ato, que ele seja ao menos feito com alguém de intimidade e cumplicidade. Que isso tudo seja suficiente para estimular a busca mútua do prazer. Feito por dois seres que tem a paciência de descobrir como o outro quer e a sagacidade de agir como se deve a partir de todos os sinais devidamente dados e interpretados. Que os toques sejam do jeito que tiverem de ser, mas que levem pra longe essa cara amarrada, essas patadas que damos sem razão, essa antipatia cultivada até nos dias mais bonitos – com qualquer um ou qualquer coisa.
Que sirva para acabar com essa ranzinzice que fica em nós depois de muito tempo sem ter nosso corpo devidamente explorado por uma boca, uma língua, uma mão. Ou umas de cada. Sei lá. Desejo que a amiga pergunte “e aí, deu?” e a outra responda “dei e ele devolveu em uma noite incrível/foda/gostosa/prazerosa (ou qualquer outro adjetivo que se encaixe aqui)”. Desejo que o amigo pergunte “e aí, comeu?” e o outro responda “não tão somente isso; nos comemos até estarmos devidamente satisfeitos”. E que os efeitos possam ir além de meramente extirpar esse mau humor nocivo.
Nojento. Intragável. Amargo. Nublado.
Que traga uma outra disposição, uma outra forma de enxergar a vida, uma melhor versão do ser, um olhar mais adocicado para com o outro, uma calma estranha aos dias anteriores, uma felicidade sem razão e sem motivo. Desejo que todo mau humor (se causado pela falta de sexo) tenha fim com uma bela e acachapante trepada. Fim.
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