Meu canalha interior
Meu canalha interior transborda por meus olhares carnívoros. Por meus lábios entorpecentes. E por meus caninos envenenados. Meu canalha interior grita em silêncio ao ver pernas de fora, decotes exagerados e bocas carnudas. Ele não ama as corretas, nem as puras, muito menos as santas. Meu canalha interior se apaixona repentinamente por pequenas falsas, dissimuladas e putas que não cobram em moedas. Me dão seu corpo em troca de carinhos rasos, de puxões fortes e de palavras insanas.
Meu canalha interior lê Bukowski, John Fante e Nelson Rodrigues. Odeia comédias românticas melosas demais ou versões do Nicholas Sparks. Meu canalha interior, às vezes – ou sempre – , me odeia também. Odeia meu jeito são de lidar com as pequenas. Meu canalha interior quer o sexo – com amor, sem amor, com nome, sem nome, tanto faz. Tem que haver tesão apenas, ele diz.
Meu canalha interior vive por minha roupa de baixo. Num canto perdido e escondido do mundo. Mas reina sobre mim, vez em quando. Uma vodca à mais. Um palavrão aqui, uma mordida de lábio acolá. Salta por minhas retinas e agarra, mesmo que apenas em meu inconsciente, as pequenas de uma vez só. Eu tremo. Eu troco de assunto. Eu chamo o garçom, o padre, Deus, minha mãe. Sei lá, porra.
Meu canalha interior não sente frio, mas adora quando está envolvido pelos braços quentes das mulheres. Meu canalha interior sente fome feminina. Hidrata-se de suor e gozo. Alimenta-se de beijos, mordidas e tapas. Meu canalha interior descarta as meninas que têm medo do pecado. Mas, ama sem pudor, aquelas que o chupa e o faz sua bomba de oxigênio particular.
Meu canalha interior me xinga toda vez que eu digo um “eu te amo” sincero, toda vez que eu me declaro a alguém ou nas vezes que rejeito sexo por fidelidade aos meus sentimentos por outra. Às vezes, meu canalha interior se disfarça de mim, que nem consigo percebê-lo. Quando acordo, já estou nu ao lado de uma desconhecida com batom borrado.