Mulheres que você deveria conhecer: Meryl Streep
Vejo piadas repetidas dizendo que a maior dificuldade dela como atriz, é se fingir surpresa quando vence alguma premiação. A repetição é justa e válida, e todo ano a indicação ao Oscar já virou tradição, ela e mais quatro. Em tempo de devoções póstumas ao morto do dia, venho eu aqui falar de vida, quer dizer, de Meryl Streep. É tão fácil falar dela, dessa unanimidade capaz de colecionar todos os adjetivos do universo dentro de suas inspiradas versões de ser. A única a poder olhar para o espelho, espelho meu da interpretação.
Margareth Thatcher interpreta Meryl Streep, Miranda Priestly interpreta Meryl Streep, Julia Child interpreta Meryl Streep. Há uma lógica inversa e quase mediúnica na concepção de suas personagens. Meryl é o típico caso em que o artista consegue ser maior do que a própria obra, do que seus filmes, quem nunca ouviu: “Vamos ver o filme da Meryl Streep que não lembro o nome”? Meryl das reações minimalistas, conduções corajosas e sóbrias, atuações milimetricamente (in)calculadas; até errando fica bom.
Meryl transtornada: em “A dama de ferro” vemos a atriz munida de uma maquiagem excepcional sendo engolida pela doença de sua personagem, fazendo e acontecendo no parlamento britânico através de uma câmera completamente transtornada. Em “Álbum de família” Meryl faz uma mãe viciada em remédios, em plena revanche familiar após sua (anunciada) viuvez. Ver a crueldade, a loucura e a liberdade dessa mulher dançando um jazz drogada é parece delírio.
Meryl divertida: Em “Simplesmente complicado” ela faz uma mãe de família vivendo os dilemas de sua idade, sem travas, sem tabus, chega ao ponto de fumar um baseado e ter uma larica com croissant de chocolate. E quem não viu Meryl no musical “Mamma Mia” pulando no sofá ao som de “Dancing Queen” nos ensinando que não existe idade pra bagunçar, coisa de outro mundo, das delícias inesquecíveis do cinema.
Meryl ardilosa: Miranda de “O Diabo veste Prada” é um meme, suas frases são exaustivamente repetidas por aí, a toda poderosa da Runway maltrata suas estagiárias através de insultos gélidos, sem esforço, são olhares de desaprovação que desmontam os maiores estilistas, e pequenos gestos faciais capazes de derrubar mocinhas indefesas. Em “Dúvida”, a crueldade sacro se manifesta através de um ímpeto clerical, sua freira persegue um suposto padre pedófilo e vai até o fim para aplicar-lhe um castigo dos deuses.
Meryl Streep faz de sua fraude o maior dos encantamentos, seremos nós para sempre a estante de seu legado, mulher primeira, gigante, uma melo-rainha dos dramas mais sedutores, uma onda majestade que nos leva embora pra longe, é a eterna primeira-dama da farsa verdadeira, é a última consequencia do cinema.
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