Prove das dores e delícias de “As vantagens de ser Invisível”
Não sei se é porque na trilha tem “Heroes” de David Bowie, ou tem uma Emma Watson versão crescida, cheia de carisma e frescor, ou o excelente Ezra Miller mostrando que futuramente figurará em diversas premiações pela sua qualidade de interpretação. O fato é que esse é um filme daqueles que se transformaram em um consenso entre cults e descompromissados, e acho que são poucas as obras que conseguem agradar a gregos e troianos.
Os tempos de escola podem ser tão intensos quanto traumáticos, e às vezes, contamos os dias para que eles acabem, mas pode também ocorrer o inverso: chorarmos copiosamente no dia da formatura quando começamos a perceber que nada será como antes. Nesse filme tudo o que poderia ser pesado, acaba amortecido pelas escolhas narrativas. Acho que uma obra consegue ser leve, (ou menos pesada) quando mistura elementos que trazem texturas sensoriais diferentes para a história. A trilha sonora pode ser esse caminho, e os anos 80 podem nos tirar do chão em questão de segundos e nos levar pra longe de qualquer vendaval de ordem existencial. Bom é se deixar levar pelos Smiths.
“I want you to know / Deep in the cell of my heart / I will feel so glad to go”
Sentir-se infinito às vezes parece algo distante, mas tem tudo a ver com saber estar, é sobre estar perto de si, e eu demorei muito tempo para entender isso. A cena da Picape em que a personagem Sam estica as mãos como se estivesse voando, é muito mais do que uma cena espertinha sobre momentos poéticos de liberdade fotograficamente bonitinhos. Saber estar é ter a capacidade de sentir o vento te encostar, e não pensar em mais nada, deixar a vida ser agora, é acertar seu fuso vital e se entregar, sem medos nem planos, deixar o distante te alcançar.
“There is another world / There is a better world”
“Nós só aceitamos o amor que pensamos merecer”, diz o professor para Charlie. E essa frase diz muito sobre a grande decisão de nossas vidas: que lugar decidiremos ocupar. Com quais culpas teremos que lidar? Que tipo de lugar é esse? Uma pessoa? Um amor? Um trabalho? Um novo País para se morar? Talvez, mais importante do que descobrir esse paradeiro, é saber que a decisão está em nossas mãos, estamos sempre escolhendo, mesmo quando achamos que não.
A minha sensação ao ver “As vantagens de ser invisível” foi inusitada: era como se o filme ME ASSISTISSE. Foi uma identificação agradável, acolchoada; uma obra finalmente mostrava de um jeito encantatório a dor e a delícia de quem é diferente por algum motivo, sem que isso significasse o manjado loser traumatizado. Uma matinê da sétima arte, toda embalada por gostosos momentos, pulsantes descobertas e barrancos inesperados. Uma farra mesmerizante que deixa nossa saudade menos enjoativa, que nos faz desejar a amizade dos protagonistas, tão luminosos em momentos de chão ou em situações de céu. Um invisível diferente da transparência, um invisível que é pura libertação.
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