Não, nós não podemos ser bons amigos!
“Nós podemos ser bons amigos?” sempre me soou como uma proposta indecente. Das perguntas egoístas que eu já ouvi na vida, arrisco dizer que essa talvez tenha sido a mais incômoda. Sempre fiquei um pouco indignada com a cara de pau com que as pessoas dizem esse clichê e me senti ensinando o Pai Nosso ao Papa Francisco todas as vezes em que tive que enumerar os óbvios motivos pelos quais eu não queria a amizade de quem eu simplesmente não via como amigo.
Acontece que o fim de qualquer relacionamento, por mais necessário e libertador que seja, envolve alguns sentimentos ruins. Perder alguém nunca é um processo simples. Nunca é fácil e indolor. Perder alguém gera uma série de sensações de difícil digestão e lidar com essa azia exige alguma maturidade. Lidar com um término exige honestidade com os próprios sentimentos e um bom bocado de autoconhecimento para saber dizer não.
Eu me lembro bem. Da primeira vez em que eu rejeitei uma proposta de amizade após o fim de um relacionamento, fui obrigada a ouvir que eu estava sendo infantil e imatura por evitar a companhia de alguém que fez parte da minha vida. Fiquei intrigada, refleti muito sobre aquelas palavras e depois de algum tempo percebi que é justamente o contrário. Ninguém é obrigado a desenvolver essa estranha habilidade de simplesmente virar a chavinha que transforma amor e paixão em simples amizade. Ninguém é obrigado a pagar com o próprio bem estar por essa pseudo-maturidade.
Maturidade é ser honesto com os seus sentimentos e saber zelar por autoproteção. Maturidade é saber se afastar quando necessário e se blindar de sentimentos que possam perturbar o coração e balançar uma decisão.
O distanciamento, tanto físico quanto mental, é um baita remédio para as dores que acompanham o fim de uma relação. Respeitar essa necessidade é sim um sinal de maturidade e não há nada de errado em respeitar o seu próprio tempo. Às vezes, por mais difícil que seja, é preciso. Às vezes não tem outro jeito. Às vezes a única saída é dizer não.
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