Não seja meu fiscal… Hoje é carnaval!
Entre aquelas coisas tipicamente brasileiras que nos fazem hesitar quando pensamos em viajar, ainda não sei se gosto mais de farofa, queijo minas, sertanejo ou carnaval. Fato é que de todas essas coisas, a única capaz de causar euforia e inquietação por quatro dias sem cessar é o carnaval. O carnaval é, para mim, a caricatura do Brasil. É a fusão dos desconcertos e virtudes da identidade nacional elevados à milionésima potência. E vai ver é por isso que mesmo com todas as cinzas e a poeira, eu persista gostando do carnaval da mesma maneira.
Gostar do carnaval é algo meio pessoal. Eu gosto porque gosto mesmo. Gosto das cores gritantes. Dos sons ofuscantes. Das sensações provocantes. Mas confesso, sempre boa entusiasta do desprendimento, que o carnaval me encanta mesmo pelo grito abre alas de liberdade que sempre o acompanha na comissão de frente.
No carnaval tudo é permitido, como sempre deveria ser. No carnaval é permitido despir-se de temores e pudores e revestir-se da fantasia que você bem entender. No carnaval você pode ser exatamente você. Ou pode até não ser, se assim escolher.
Dia desses, aqui em São Paulo, ouvi uma conversa de elevador perturbadora sobre a maneira como as pessoas se divertiram no pré-carnaval: “A mulherada bêbada, dançando até o chão, com o shortinho quase aparecendo a bunda, um horror.”, disse uma colega indignada. “Hoje em dia a mulherada está assim.”, respondeu a outra já conformada.
Desnorteada, involuntariamente calei-me diante do discurso moralista das duas fiscais da diversão alheia. Mas confesso a vocês que minha vontade era rodar uma ala das baianas inteira. E justamente para não morrer engasgada com esse sapo em pleno carnaval, utilizo essas linhas como réplica para dizer que realmente hoje em dia a mulherada está assim: sendo feliz.
Hoje em dia a mulherada está assim: sentindo-se livre para mostrar e mexer o corpo, seja ele do tamanho que for. Hoje em dia a mulherada está assim: decidindo os caras com quem quer ficar, quando quer ficar, se quer ficar. Hoje em dia a mulherada está assim: enchendo a cara e entendendo que mesmo assim ninguém tem o direito de lhes tocar. Hoje em dia a mulherada está assim: exercendo a liberdade que é delas por direito e ninguém pode tirar. E vocês nem imaginam o orgulho que essa mulherada me dá.
Às minhas amigas do elevador, devo dizer que respeito o pudor de vocês e defendo até o fim o direito de vocês preservarem-no. Ainda assim, espero que vocês compreendam que pudor é uma tendência extremamente pessoal. O seu pudor só serve para você, só você pode usar. Não é por causa do seu pudor que outra pessoa deve deixar de dançar, ou requebrar, ou festejar. No mais, desejo-lhes belas máscaras durante o carnaval e anseio genuinamente que nos outros dias do ano nenhuma de nós precise mais se fantasiar. Bora lá sambar.
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