Ninguém pode ser adolescente para sempre

Acho muito curioso certas epifanias juvenis (sim, estou falando que nem avô), pois acredita-se que uma pessoa tem maior valor quando sabe exatamente quem é. Muitos adolescentes por estarem saindo da barra da saia da mãe precisam se autoafirmar independentes psicologicamente e para isso criam todo tipo de contestação e rebeldia para mostrar que já mandam no próprio nariz.

Acho bonita essa fase, apesar de ser terrível para os pais, mas muitos exageram na mão. Muitos começam a colocar para fora toda a hostilidade e ressentimentos de carências e frustrações vividas na infância pois não foram atendidos no seu ideal de amor familiar. Agora maiores e apegados aos grupos de amigos do colégio dão de ombros e gritam para os quatro ventos: “não preciso dos meus pais”. Com exceção do dinheiro do lanche, e das roupas, e dos passeios e dos… tudo.

Essa autoafirmação cheia de personalidade forte começa a mostrar rachaduras ao longo do início da vida adulta. Os amigos para sempre do colegial não são tão para sempre, as decepções vêm e os primeiros fracassos surgem. Agora não dá mais para colocar na conta dos pais. Aquele reizinho cheio de certezas percebe que não é infalível como gostaria.

Lentamente começa a sacar que muitas escolhas foram precipitadas ou enganosas e que nem tudo é cor-de-rosa. O golpe no próprio ego inflado é grande e as respostas óbvias e cheias de convicção não respondem todos os dilemas da vida.

O horóscopo não responde mais, o biscoito da sorte também não e até o livrinho Minutos de Sabedoria parece inútil. Nessa hora precisa pensar com sua própria cabeça de verdade, mas não seguindo fórmulas de como viver bem. O processo artesanal é iniciado com as duras penas de quem precisa redescobrir sua sexualidade, sua filosofia de vida, seu grupo de amigos e suas vocações profissionais.

Essa fase é especialmente torturante e até surge uma nostalgia da infância onde tudo vinha pronto para viagem.

Alguns sucumbem no meio dessas descobertas e se refugiam em novas verdades finais e absolutas e se resguardam na zona de conforto do cotidiano previsível. Outros sobreviventes começam a adotar uma postura cínica e desacreditada da vida e se arrastam de desilusão em desilusão. Mas existem aqueles que suportam a angústia de estar lúcido, olhando cada demônio pessoal olho no olho.

Essas são as pessoas que mudam o mundo, pois apesar dos terríveis dilemas que a vida impõe resolver seguir em frente descobrindo e inventando cada novo dia como se fosse uma jornada sem fim.

E você em que fase está?

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