O amor é um jogo sim

Um relacionamento é um jogo sim, mas não um jogo de um contra o outro. É um jogo que se joga em dupla. E não é um jogo contra ninguém, é um jogo cujo único objetivo é manter a dupla junta. É como o atletismo ou a natação, você disputa contra você mesmo, pelo seu melhor tempo, pelo seu recorde. Mas não dá pra condenar completamente as pessoas que veem o relacionamento como um jogo de um contra o outro. É senso comum, e até bastante verdade, que a maioria das pessoas tente sempre a tentar levar vantagem em qualquer situação, e que a maioria das pessoas veem como fraqueza ou submissão fazer concessões ou tomar decisões em conjunto.

Muitas mulheres o fazem por conta do “homem nenhum manda em mim”, e muitos homens o fazem pelo “quem manda aqui sou eu”. Mas verdade é que a maioria das pessoas sempre tenta ter a dianteira, a vantagem na relação. Ser o que cede menos, o que tem a palavra final. Preferem levar a namorada infeliz ao jogo de futebol, ou preferem obrigar o namorado contrariado a fazer compras no shopping. Em vez do diálogo e da razão, vence o “ah, é, não vai não? Você vai ver só”. E esse “você vai ver só” significar que a pessoa tem nas mãos uma cartinha de “rebeldia livre a qualquer hora”.

– Amor, tá na cozinha? Pega água pra mim?
– Eu não, ontem você não quis almoçar na casa da minha mãe
Ou:
– Rico, conserta meu computador pra mim?
– Depois. Vou demorar o mesmo tempo que você demorou pra me ajudar a fazer minha declaração do Imposto de Renda.

As pessoas disputam por um prêmio que não existe. O que se ganha sendo o lado “mais forte” de um relacionamento? Se ganha provar ao parceiro o seu profundo problema de autoestima e afirmação que não aceita ceder em nada porque não pode nunca estar em uma posição “desfavorável”. É desfavorável ter um relacionamento saudável e feliz? Ter uma namorada ou um namorado que não fala “ah, é tão difícil”, sobre você? Não vale a pena? E se a pessoa que está com você pensa assim, e isso “o força” a pensar assim, camarada, tenho uma péssima notícia: você está sentado em cima de uma bomba relógio. Isso não é Petralhas versus Coxinhas. Nem Fla x Flu. Nesse jogo o objetivo é comum. Os dois querem chegar no mesmo lugar. É como se vocês estivessem em uma competição na qual se qualquer um dos dois chegar na linha de chegada, os dois ganham o mesmo prêmio, e quando dá a largada, um tenta atrapalhar o outro. Os dois ganham o mesmo prêmio. O prêmio é para os dois. Por que alguém precisa estar na frente? Por que alguém tem que “mandar”?

Se relacionar com pessoas assim é cansativo, porque quanto mais você cede, mais elas “se defendem”. São pessoas que entoam sempre a mesma canção: “mas eu fiz não sei o que com você”, e esse não sei o que, há três anos, vai ser para sempre um salvo conduto para que você ceda sempre. Mas o problema é que essas pessoas não ficam satisfeitas se encontram um parceiro que não se importa em ceder, elas tentam levar a disputa para outras áreas, até que, um belo dia, você é acusado de “ceder demais”, e elas lhe dizem que a culpa é sua que é bonzinho demais. Mas acreditem, é melhor ser “bonzinho demais” do que agir como se o relacionamento fosse uma relação de poder. Na verdade até pode ser, mas não devia. Se é, algo está errado.

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