O perdão é um band-aid na história da gente
Confesso que nunca tive o perdão como algo realmente claro dentro de mim. Assim – eu não sou tão evoluído a ponto de acreditar que uma frase ponha fim a todo o caos que se instaura dentro da gente em determinadas situações. Às vezes, um simples – me perdoa – é pouco demais para ser capaz de cicatrizar um coração cortado, machucado, ferido por ações que foram infinitamente mais fortes do que essa junção de palavras.
A gente nunca mora dentro do outro para saber de onde aquele alguém pescou o pedido perdão. Para ser sincero, o que vejo hoje são pessoas que, para vestirem a máscara de sociáveis, de evoluídos, para dormirem uma noite inteira de sono tranquilo e sem pesos na consciência, se valem da desculpa esfarrapada do perdão para tirarem os pesos das costas. Por isso, para mim, o perdão, na maioria das vezes, só oferece paz a quem o pediu. Quem o concede ainda precisa lidar com todo o mal-estar da situação anterior, ainda precisa assentar a poeira, ainda precisa aprender a conviver com a dor e o remédio caseiro para ela.
Admiro com todas as forças aqueles que conseguem dizer – eu te perdoo – e seguir em frente. Assim, sem ter, pelo menos uma vez por dia, por semana, por mês ou a cada dez minutos, um flashback dos momentos bons se chocando com os ruins e dando origem a uma cicatriz que custa a fechar. É como um corte de vidro que precisa levar ponto. Como se precisasse ser costurado para não romper o resto da relação. O perdão, às vezes, é uma contenção numa história que ainda tem muito para durar. Que não pode acabar ali, assim, naquele momento, daquele jeito.
Vejo o perdão, em algumas situações, como um remendo num pneu que permite que o carro rode ainda por mais algumas dezenas de quilômetros. Que não permite que uma viagem inteira acabe, porque assim, de alguma forma, uma pedra fez um furinho em uma das quatro rodas.
O perdão é como o band-aid que precisamos para as nossas histórias. E se você não sabe a real função de um desses curativos, vou te explicar rapidamente: o band-aid ainda é um adesivo usado para proteger pequenos ferimentos e que mantém a umidade natural da pele, acelerando a cicatrização. Quero frisar aqui a importância do – acelerando a cicatrização. A-c-e-l-e-r-a-n-d-o. O perdão age num coração ferido como o curativo que vem para ajudar no processo de cura, de cicatrização, mas não do fechamento imediato das feridas.
Infelizmente, ainda tem gente que acredita que tudo se resolve com uma simples frase que, na maioria das vezes, só serve para que as pessoas vistam a máscara de sociáveis, de evoluídos, e durmam uma noite inteira de sono tranquilo, sem pesos na consciência. Se valendo da desculpa do perdão para tirarem os pesos das costas.
Confesso que nunca tive o perdão como algo realmente claro dentro de mim. Ele precisa ser sentido. Precisa fazer sentido. Não acredito no perdão sem aprendizado. No perdão sem mudança. De ambas as partes.
Um precisa fazer um esforço enorme para abrir mão do que machuca o outro. O outro precisa fazer um esforço enorme para abrir mão do machucado e permitir que a ferida causada pelo anterior, simplesmente, cicatrize e vire pele de novo. E eu, no meio disso tudo, preciso fazer um esforço gigantesco para aceitar que tudo isso é normal. Que foi apenas uma pedra num único pneu. Que ainda existem muitos quilômetros pela frente… Ou me convencer, de uma vez por todas, que é hora de um novo destino. Que essa viagem, de fato, acabou.
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