O que passou depois de você
Eu passei a acordar mais cedo, antes da hora em que o seu “bom dia” chegava, pra me ocupar antes desse minuto e passar por ele sem perceber (ou tentar).
Passei a dar uma volta a mais pra chegar naquele restaurante que eu gosto tanto, só pra não passar pela rua em que a gente se conheceu e ser invadida por memórias que, hoje, machucam demais.
Passei a dormir mais cedo também, e, o motivo é parecido com o da manhã. Para evitar a ausência do “boa noite, dorme bem” que sempre vinha. Sempre. Passei a evitar essa palavra também.
Mas, passei a acordar no meio da noite, sentindo saudade, com o coração disparado e ansioso por ausência de palavras, de voz, de toque.
Passei a ouvir músicas diferentes das que contam a nossa história, a comprar outros vinhos, a ir a outros bares, a dormir no meio da cama, a meditar às 06h00, almoçar às 11h30 e olhar o céu às 21h20.
Passei a evitar muitas ruas, músicas, filmes e lugares. Passei a fazer muita coisa diferente na esperança de que você passasse de mim também. Ainda não passou. Talvez, passe em breve. Talvez, ainda demore um pouco.
Por enquanto, o meu esmalte continua preto, a minha cor preferida ainda é azul, meu cabelo cresceu um pouco, troquei um dos perfumes (esse eu não escolhi pelo nome), aquela música continua me fazendo chorar, ainda espero o filme de novembro e, apesar de tudo que mudei, das voltas que dou pra não chegar onde você esteve -comigo- você continua aqui -do meu lado de dentro.
Minhas tatuagens ainda são as mesmas, a do pulso, que diz: “This too shall pass”, leio sempre. “Isso também vai passar”, ela diz. Quando? Não sei. Por enquanto, vou passando por outros caminhos.
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