Os fitness que me desculpem, mas jacar de vez em quando é fundamental
Voltei a fazer academia. Musculação, pra ser mais específica. Logo eu, que sempre achei um saco puxar ferro. Acontece que a vida não é a porra do nosso Toddyinho gelado, e nem sempre a gente tem condições de fazer o que a gente mais gosta. Netflix tá sempre aí, absoluta, mas os boletos a pagar se multiplicam em progressão geométrica. Cerveja gelada tá sempre aí, convidativa, mas o despertador toca amanhã às seis e meia. Sexo tá sempre aí, delicioso, mas nem todo momento é momento pra abaixar as calças. Em resumo, a vida tá sempre aí, esplendorosa e cheia de prazeres, mas as obrigações batem à porta com tanta força que não adianta fazer piquete de mesa e cadeira do lado de dentro: uma hora, elas arrombam a fechadura e arrastam o que houver pela frente. Gente, coisa, espectro, sentimento. Tudo.
Por isso é que a gente precisa se mexer, figurativa e literalmente, apesar de a inércia, às vezes, ser mais gostosa. E também mais viciante, diga-se de passagem. Não vou negar que sinto um orgulho que beira a satisfação quando me vejo acordando às seis e meia para a aula de zumba, ou botando tênis, legging e top pra malhar em pleno sábado. É uma sensação de, finalmente, estar vencendo na vida. Mas não há endorfina, barriga negativa ou bumbum na nuca que paguem a delícia de passar um domingo inteirinho de moletom furado, cabelo desgrenhado e corpo jogado no sofá, só à espera do fim da quarta temporada daquela série viciante. Ou da revelação de quem matou o jornaleiro, com requintes de crueldade, naquele livro que a gente começou a ler outro dia no ônibus. Ou do êxtase de, finalmente, conseguir tocar no violão e cantar aquela música que a gente vem tentando tirar há semanas.
É claro que, na hora de botar biquininho ou de tirar selfie pro Instagram, a gente se arrepende um bocado de não ter malhado de segunda a segunda. De ter matado a musculação de sexta-feira pra tomar aquela cervejinha pós-expediente com os amigos. De ter corrido só dez minutinhos na esteira naquele dia que a gente não podia chegar tarde em casa e perder o novo episódio daquele reality maravilhoso. De ter devorado aquele petit gateau de chocolate belga mesmo depois de ter batido um pratão de comida bem gorduroso e generoso. Mas acontece que toda disciplina, quando demasiada, é aprisionadora. Que sair de casa pra malhar não é cultivar vida social. Que fazer exercício mais cansa do que relaxa. Que filé de frango com batata doce e ovo cozido não fazem banquete.
E às vezes, a gente precisa de liberdade. De risada fácil com amigos fáceis. De relaxamento puro e completo – também conhecido como hibernação. De banquete com proteínas, carboidratos, fibras e gorduras em todas as suas formas. A gente sabe que é errado descontar frustrações na comida, na bebida e no ócio, mas é que tem sofrimento do qual nem a psicanálise dá conta. E aí, a gente mergulha de cabeça nos prazeres excusos e na tentação de ser feliz por pelo menos um momento. Porque viver, amigos, assim como conquistar uma bunda enorme e durinha, pode ser lindo, maravilhoso, gostoso e engrandecedor. Mas não é bolinho, não. Nem de queijo, nem de chocolate, nem de espinafre, nem low carb. Viver é difícil. Pra caralho. E se a gente ainda tá vivo, é sinal de que, pelo menos até agora, a gente teve o mínimo de sucesso. Então, garçom, traz um chope e uma porção de fritas aí pra gente comemorar a graça da nossa desgraça. Academia fica pra amanhã.
Delícia de texto. Eu toda! Por fim só o circo (duas ou uma vez por semana sem conseguir dar a frequencia necessária) começou não bastar. Me rendi ao puxar ferro qqqq. E to assinando embaixo de cada parágrafo desse aí.