Por uma traição, o nosso “para sempre” acabou
Existe uma secreta constituição que rege todos os casais da terra. Nesse conjunto de leis, acordos, cabe quase tudo. Alguns gostam de desafiar seus limites na cama, outros preferem jantares românticos, alguns gostam de delimitar a importância das datas, outros pedem que jamais sejam traídos. A gente fazia parte do grupo que queria tudo isso e mais uma outra porção de sensações. Ou melhor, eu quis.
Nem todos são capazes de assumir grandes responsabilidades. Eu sei. A minha parte racional até entende. Só não aceita. Acredito eu que seja impossível perdoar uma traição. Porque só a palavra já pesa mais do que posso suportar. As ações me envenenam.
É exatamente assim que me sinto. Envenenado. Meio morto. É como se alguém regasse a nossa roseira com uma espécie de pesticida. Que, por mais que os espinhos estivessem ali para nos proteger dos toques, das aproximações alheias, alguém jogou mais baixo. Mais sujo. Alimentou o nosso amor com veneno. O fez murchar. Fez secar todos e tantos momentos que só precisavam de um pouco de luz para desabrochar. Florescer. Encantar.
Seria ridículo da minha parte culpar apenas os responsáveis pela jardinagem. Seria infantil da minha parte dizer que também não tive uma parcela, ainda que não gigantesca, de culpa. Mas acho que você foi a pior das decepções. Sabe quando a gente não espera? Sabe quando estamos andando distraídos pela rua e chutamos um daqueles postes pequenos? Aqueles que medem a altura da canela e provocam uma dor que não é só física? É uma dor que ecoa por dentro da gente. Que parece crescer. Que chega ao ápice e depois congela. Só dói de novo se tocar na ferida.
Você foi um dos amores mais doces que eu tive. Doce a ponto de te fazer enjoar. A ponto de te fazer procurar qualquer outro sabor mais salgado. Qualquer sabor mais exótico. Qualquer sabor mais amargo. O mesmo sabor que fica hoje na minha boca quando lembro das tuas promessas. Dos nossos planos. Do nosso pra sempre que passou. Que durou só o tempo de me quebrar em partes. Em milhares delas.
Existe uma secreta constituição que rege todos os casais da terra. Nesse conjunto de leis, acordos, cabe quase tudo. Algumas admitem joguinhos sexuais com mais uma parceira, mais um parceiro. Mais um casal. Outros perdoam traições e chegam até a ignorar os fatos. Os atos. Fingem que nada nunca aconteceu. Comigo não. E achei que para você era a mesma sentença – prisão perpétua. Cadeira elétrica. Injeção letal.
Digo isso porque faz parte da constituição da minha alma ser de só uma única pessoa. Não consigo dividir a minha atenção, os meus pensamentos, os meus sonhos, o meu corpo, não consigo dividir o meu amor. O prazer nem entra em jogo. Acho que sexo por sexo é uma coisa meio blasé. Mas eu sei que existem outras bilhares de pessoas que se sentem ouriçadas. É um direito de cada um.
Mas no nosso acordo, pela nossa lei, era proibido beijar outras bocas. Era proibido tocar outros corpos nus. Era proibido tudo que nos proibisse de continuar a ser par. Não deu. Já não dá. Só quero agora que você seja forte o suficiente para seguir adiante. Para tocar seu barco. Para sumir da minha estrada. Para procurar outras formas de diversão que não incluam usar meu coração como passatempo.
Existe uma secreta constituição que rege todos os casais da terra. Nesse conjunto de leis, acordos, cabe quase tudo, menos brincar com os sentimentos de outra pessoa. A traição é, para mim, o pior dos atos. A gente doa carinho, atenção, empresta amor e recebe um cuspe no meio da cara. É essa a sensação que eu tenho. Você escarrou nos meus sentimentos. Mas eu limpo. Não tem problema. Se for esse o preço que eu preciso pagar para te ter longe de mim, assino o cheque. Passo o cartão. Pago à vista e não quero sequer desconto. Fica com o troco. Você vai precisar nos dias de solidão.
Comentar sobre Por uma traição, o nosso “para sempre” acabou