Prazer, Carmen Rosário
– Se eu fosse travesti, meu nome de guerra ia ser Carmen Rosário.
– Que? Do que você tá falando, Pedro?
– Ué, falei que se eu fosse travesti, meu nome de guerra ia ser Carmen Rosário.
– Mas de onde veio isso?
– Eu acho Carmen classudo, clássico. E Rosário dá um toque meio espanhol, sexy.
– Você não tem mais o que fazer, Pedro?
– Ah, Má, vai dizer que você nunca pensou nessas coisas?
– Em ser travesti??
– Não, mas sei lá, você nunca pensou no nome que usaria se fosse garota de programa? Nunca pensou nessas coisas?
– Já, mas sei lá, eu não penso muito nisso.
– Já? E aí, qual ia ser seu nome? Como ia ser a sua versão garota de programa?
– Ah, meu nome ia ser Lita do Carmo, eu ia pintar o cabelo de vermelho, ia trabalhar em uma boate em Copacabana e só ia fazer programa de luxo. No programa ia estar incluso tudo, menos sexo anal, que aí é mais caro. Ah, e oral “até o final” também, não, se é que você me entende. Aí é o dobro. Beijo na boca só se eu gostasse do cara, aí eu podia até passar do tempo. Ia dar desconto para casais, principalmente se a mulher fosse bonita ou peituda. Eu não ia atender velhos, flamenguistas nem gente com canal no Youtube.
– O que???
– Ah, eles iam ficar pedindo pra eu me vestir de Felipe Neto. Broxante.
– Não, quer dizer, você pensou nisso tudo agora? Você já tinha pensado nisso tudo?
– Sim
– Sim o que?
– Já tinha pensado.
– Por quê??
– Ué, por que você pensou no seu nome de travesti?
– Sei lá, eu não tinha o que fazer!
– Eu também.
– Mas eu não me imaginei transando com outras pessoas!
– Nem eu. Não muito.
– Porra! O que mais você imaginou? Que eu ia poder ser seu cafetão?
– Pedro, magro desse jeito? Ninguém ia me respeitar com você como cafetão.
– Você tá de sacanagem. Não é possível. Você falou disso com alguém?
– Já, com a Julia, a Fê, a Rafa e a Carlinha.
– Não, não, não, não acredito. Todas as suas amigas sabem disso?
– Sabem e elas também já escolheram os nomes delas, pra se a gente trabalhasse juntas. Ia ser tipo uma cooperativa.
– Caralho, para! Chega! Daqui a pouco você vai descrever como você tiraria a virgindade de um adolescente!
– Quer saber?
– Nããããão! Pára com isso, meu Deus! Eu não acredito que a minha namorada tá falando isso.
– Eu nunca quis fazer isso, só pensei, Pê. Para de drama.
– Como não quis??
– Não querendo. Por acaso você já quis ser um travesti de verdade?
– Não.
– Então pronto, eu nunca quis ser garota de programa. Só imaginei como seria.
– Eu não acredito, vou pro banho.
Pedro sai, furibundo. Marcela dá de ombros e vai dormir. Algumas horas depois, ela acorda com a campainha tocando. Pedro não está na cama. Ela vai atender, assustada. Antes que pudesse chegar na porta, ela ouve Pedro fazendo uma voz afeminada com sotaque espanhol:
– Lita do Carmo! Abra esta porta, aqui é Carmen Rosário! Eu sei que você está aí, e hoje você não vai escapar de Carmen Fúria Espanhola Rosário!
Marcela só tem tempo de correr para vestir um espartilho e pegar o vibrador na gaveta, antes de abrir a porta. Vai que Pedro leva o personagem a sério demais.
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