Quando a gente ama, tudo é festa
Quando a gente ama tudo muda de figura. Mau humor de manhã é algo que não cabe, só ter banho gelado não é motivo para uma guerra e o café não estar pronto é bem tranquilo. Você vai lá e faz se precisar. Se já estiver acostumado, nossa, beleza. A camisa sem passar veste do mesmo jeito para mais um dia de correria e a pouca gasolina não é capaz nem de fazer a testa franzir. Para e abastece.
Quando a gente ama, segunda-feira parece sexta. Se aparecer um programa, tudo bem que depois é terça. O importante é aproveitar o que o outro tem pra dar. Cara de sono? Faz parte. Quem nunca escapou no meio da semana pra fazer algo que só cabia num sábado? Todo dia é dia. O que der na telha vai se topando e vambora. Quem quiser contestar vai ganhar um sorriso de volta. Ninguém paga esse sorriso.
Quando a gente ama faz coisas que nunca imaginou que fosse fazer, fala coisas que nunca imaginou dizer e pede por outras que — melhor não dizer. Loucura é normal, a censura é pública e demonstrações de afeto são parte do cardápio. Isso sem falar na língua, no pescoço, na barriga, na perna e o que aparecer pelo meio. Aperta, lambe, enrosca, morde, beija, chupa, encosta. Pensa-se em cama o dobro, o triplo. A festa nunca tem hora pra acabar e a vadiagem é certa.
Quando a gente ama a cabeça se resolve. O analista não vê mais a cor do dinheiro, agora destinado aos mimos, às contas e outras incontáveis “tava passando e lembrei de você!”. Psicólogo não tem vez, conselhos são apenas sobre um ou outro vinho, ou destino no fim de semana. A opinião de quem tá de fora passa longe, feito cometa. Quem viu, viu. Quem não viu, bem, pode não estar perdendo nada. Mesmo.
Quando a gente ama, ninguém pode chegar perto. Saudavelmente se cultiva aquele ciuminho, aquele charminho, aquele biquinho e faz questão de levar até que o beijinho sare. Não duvido que “pague geral” pra quem se atrever passar de algum limite imposto. Ninguém é dono de ninguém, mas se dá a concessão do coração. Por mim, pode chamar de “meu” que eu a quero chamar “minha”.
Quando a gente gosta, ama, adora, quer, curte, junta tudo isso e sacode, agita e toma de gole. Vale tudo quando a gente ama.
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