Quando o amor se vai, as lembranças sempre ficam…
É difícil escrever com essa coisa estranha no meu peito. Talvez eu desse tudo por uma máquina que simplesmente apagasse você de mim – como naquele filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, que vimos juntos, mas você dormiu na metade – mesmo sendo algo tão cruel. Ainda mais cruel do que esse nó na garganta e esse buraco no peito.
Mas, sabe, o que vivemos foi algo tão raro que eu não usaria uma daquelas máquinas. Eu não teria coragem de apagar algo tão bonito, tão sincero, tão real. Não conseguiria fazer com que tudo aquilo simplesmente deixasse de existir.
Nenhum de nós é uma lousa, cujas histórias possam simplesmente ser apagadas por outra pessoa que deseja reescrever. Tudo o que fomos continua entre nós, flertando com a minha dor, se exibindo para o meu remorso. Nada disso deixou de existir e, ao mesmo tempo em que me conformo, não consigo deixar de me sentir um pouco mais imbecil todas as vezes em que me lembro de nós.
É que você foi real. Nunca houve jogos patéticos, mentiras convenientes ou beijos forjados. Nunca houve um amor encenado para uma plateia; nós fomos de verdade. E a cada dia que amanheço, compreendo um pouco mais.
Preciso te dizer que a coisa mais difícil que já fiz foi deixá-lo. Foi fingir que isso não doía enquanto, puta que pariu, isso me dilacerava. Ainda me dilacera um pouco a cada vez que me lembro do quanto a sua mão sempre esteve do meu lado. Do quanto eu fui tão pouco merecedora do amor tão puro e sincero que você me deu. Mas eu nunca pude te dizer isso, você não merecia a culpa pela minha dor. Ela é minha agora, entende?
Nunca quis que a lembrança do meu desespero te pesasse na alma, pois fui eu quem quis assim – e a coisa mais decente que se pode fazer na vida é assumir as próprias escolhas. Então, o mínimo que eu poderia fazer era te deixar pensar que, tudo bem, se você seguisse em frente. Eu faria o mesmo. Farei, tenho certeza – mas agora tudo o que consigo é perceber, com uma clareza violenta, o quanto nós fomos a representação da máxima beleza que há no amor. O quanto todas as pessoas tinham razão quando diziam que éramos mesmo um casal exemplar – embora ninguém estivesse conosco entre quatro paredes.
Não quero me lembrar do quanto foi incrível quando você passou a madrugada comigo num aeroporto frio esperando uma encomenda importante. E o quanto nos bastou o cafezinho oferecido pelos vigilantes, e a conversa sobre qualquer coisa sem importância enquanto esperávamos. Não quero pensar que em todas as vezes que me senti vazia de mim, você estava lá pra me mostrar quem eu era; não quero pensar que joguei fora todo o amor que você me deu por distração. Uma distração estúpida.
Os anos que passei com você foram os que mais valeram a pena na minha vida. Por isso, ainda que eu pudesse apaga-los, prefiro que eles doam pelo tempo que for salutar – mas que se possa lembrar que um dia existiram. Que qualquer um possa compreender, ao se lembrar de nós dois, o quanto o amor pode ser magnífico, embora, em algum momento, inevitavelmente deixe de sê-lo. Tudo o que vivi faz parte de mim de uma maneira que eu jamais renegaria, e isso inclui você. A despeito disso, é bom te ver seguindo. Espero que algum dia encontre algo tão real quanto fomos nós.
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