Relacionamentos são complicados
Eric pegava uma caixa de Sucrilhos nas prateleiras do alto quando sentiu alguém bater com um carrinho de compras no seu calcanhar. Se virou impacientemente e viu Ariel, sua ex-namorada, um tanto quanto atrapalhada com um carrinho de compras cheio.
– Quer ajuda, gatinha? – Disse ele, irônico, enquanto ela estava de cabeça baixa tentando não deixar cair tudo de dentro do carrinho.
– Não, brigado. – Respondeu ela, ríspida e nitidamente cortando a cantada barata daquele estranho.
– Bom, então eu vou embora. Mas não esquece de pegar aquele chocolate com passas que você gosta, tá em promoção.
Ela olhou espantada e viu que era Eric. Sorriu sem jeito e o cumprimentou.
– Tinha que ser você, bobo.
– Claro, em quem mais você ia bater o carrinho no pé, né?
– Desculpa, eu tava meio enrolada.
– Relaxa. Tá sozinha aí? Vou embora senão seu namorado vai ficar chateado.
– Eu to sozinha. Meu namorado não veio. Ele nunca vem.
– Sério? Eu adorava ir ao mercado com você, lembra? Era um pra cada lado e quando a gente se encontrava você tava cheia de doce, chocolate e coisas para fazer bolo no seu carrinho, hahaha.
– É mesmo, era bem divertido. Fazer compras sozinha é bem chato. A sua namorada ta aí?
– Não. Na verdade eu terminei tem um tempo.
– É? Que pena. Brigaram?
– Não, só não deu certo. Essas coisas são complicadas.
– Outro dia a Natalia, minha amiga, tava falando disso. Relacionamento é sempre uma coisa muito complicada, mas com a gente não era, hehe.
– Com seu atual namorado é complicado?
– Sempre é, né, Eric. Sempre é.
– Sempre não, com a gente não era, hehe.
– É… Com a gente não era… Mas e aí, já tá procurando a próxima?
– Na verdade já achei, mas to esperando a poeira abaixar. É uma situação meio complicada. Mas eu vou esperar, vou curtir a solteirice um pouco.
– Ah, que bom… – Ariel responde, sem jeito. – Queísso que você tá escrevendo?
– Uma coisa que eu esqueci de comprar. Mas e aí, como tá a sua vó? Saudades dela.
– Tá bem! Dia desses ela perguntou por você.
– Eles devem me odiar, né?
– Não, não. Eles te entendem. Você foi muito correto comigo quando terminamos.
– É… Fui… Mas e aí, como tá o namoro? Bem?
– Eric, você sabe que eu não gosto de falar disso com você.
– Ok, foi mal. Não tá mais aqui quem falou… Mas e o trabalho, tá bem?
– Tá, to indo pra outra agência.
– Ganhar mais?
– Nem tanto, mas com certeza trabalhar menos. Sair no horário, pelo menos, né.
– Ah, sim. Que bom, né?! Eu consegui sair de agência e não volto mais, hehe.
– Mas eu gosto.
– É… Eu lembro… Eu lembro que eu ia te buscar na agência todo dia, e você vinha o caminho todo de casa falando de como foi seu dia. Eu adorava ouvir você falando tão empolgada, tão feliz.
– É… Eu também gostava de falar…
Ela olha pra baixo, sem jeito. Levanta a cabeça e fala apressada.
– Bom, tenho que ir. – Disse ela, tentando arrumar as coisas no carrinho.
– É… Eu também…
O clima ficou um pouco denso. Ariel prendeu os cabelos e foi se ajeitando.
– Pera, sua bolsa tá aberta. – Eric falou, pegando a bolsa e recolocando as coisas dentro.
– Brigado. Vou nessa então. Beijos, se cuida.
– Beijos, e se cuida você!
Ariel foi se afastando enquanto Eric ficava parado, imóvel. Ele a observa até o caixa. Ela chega no caixa e passa as compras. Tudo sob o olhar atento de Eric. Quando vai abrir a carteira, ela vê um papel com a letra de Eric. Ela lê e está escrito: “Eu vou te esperar, mas não demora muito. Ser solteiro é muito chato, e não tem ninguém pra fazer brigadeiro pra mim…”. Ela sorriu de cabeça baixa. Se forçou a ficar séria e olhou para trás, onde, ao longe, Eric ainda estava parada a observando. Ela olhou para ele bem nos olhos, sorriu, pagou as contas e foi embora. Eric começou a andar devagar, ora sorrindo feliz, ora com um semblante triste, desesperançoso. Sorte de Eric que todos os relacionamentos são sempre muito complicados. Menos o deles.
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